Assim falava
Nostradamus
Cícero
Belmar
Os dias escorreram como se o amanhã fosse impossível. A instabilidade e a tensão deram o tom das últimas semanas. Mas, o calendário está virando, e quem diria, amanhã será primeiro de julho. A bomba não explodiu, a terceira guerra não começou e o mundo não acabou. Pelo alarde sistematicamente feito nos meios e nas redes, a humanidade estava com as horas contadas.
Senhores profetas
do desmantelo, é melhor acreditar nas previsões da Irmã Marlene, vidente que
promete trazer o amor de volta em apenas três dias. Ela, pelo menos, acerta em
1% das possibilidades. Nas previsões das desgraças, o mundo já era um grande
cemitério em potencial por causa da guerra. Argumento que deixou em sobressalto
os crentes em Nostradamus. Hoje, fico me perguntando, a quem interessava o
caos?
Diziam que os
Estados Unidos atacariam o Irã, mas diziam também que o irã poderia retaliar
com mísseis intercontinentais. Israel, o encrenqueiro da vez, não iria sossegar
enquanto não atingisse muitos países do Oriente Médio. A Rússia estaria com o
dedo coçando para mandar metade do mundo ao espaço. Pior seria se a China
tomasse gosto pelo conflito, porque o estrago estaria feito. A barra pesou, mas
deu uma acalmada. Amanhã é julho.
A população mundial
tem medo de que uma guerra nuclear nos pegue no meio do caminho e modifique a
vida na terra. Os dias foram dramáticos e sombrios em diversos países, por
causa do clima da tragédia anunciada. Mais do que a guerra – volto a me
questionar -, quem sai ganhando com o nosso temor? O que a nossa desordem
emocional alimenta?
Eu sei que os
riscos existiram. Existem. Mas essa coisa de que o mundo poderia explodir é
terrorismo. De vez em quando surgem esses profetas anunciando que o fim é uma
questão de tempo. Agora, foi a guerra. No ano 2000, a descoberta de um
calendário da civilização Maia deixou muita gente em aflição. Só contava os
dias até 31 de dezembro de 1999. Cá estamos em 2025.
As guerras trazem
um aprendizado. Nesta de Israel e Irã, o recado foi dado: o que interessava à
ultradireita era espalhar o medo e o ódio. Ficamos com a sensação de que a
nossa vida é supérflua. Os donos do mundo se nutrem do nosso caos interior.
Querem que a gente se sinta como quem boia na água.
Toda e qualquer
guerra nos faz sentir descartáveis e inúteis como bonecos. Por serem violentas,
colocam em xeque a nossa autoestima. Arruínam a nossa saúde mental porque
agrava a ansiedade. E esfregam em nossa cara as nossas rigorosas limitações. A
extrema violência nos objetifica.
Uma guerra como
esta, que envolve armas com alto poder de destruição, sobre as quais não
sabemos mensurar as consequências, não tem apenas a finalidade de destruição em
si mesma, como seria de praxe. A destruição continua um objetivo, mas funciona
também para nos prender em ameaças.
Penso que a
finalidade primordial desta guerra é a intenção de subjugar a humanidade inteira
a um projeto de poder. A possibilidade de um fim nos neutraliza e nos submete
às potências e prepotências. Trata-se de um modelo de servidão ideológica, que
mobiliza em nós os nossos inimigos internos mais poderosos. E através deles
ficamos acorrentados: nossos traumas e medos.
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Leia um poema de Paulo Mendes Campos https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/palavra-de-poeta_22.html
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