05 julho 2025

Uma crônica de Cícero Belmar

Assim falava Nostradamus
Cícero Belmar  

Os dias escorreram como se o amanhã fosse impossível.  A instabilidade e a tensão deram o tom das últimas semanas. Mas, o calendário está virando, e quem diria, amanhã será primeiro de julho. A bomba não explodiu, a terceira guerra não começou e o mundo não acabou. Pelo alarde sistematicamente feito nos meios e nas redes, a humanidade estava com as horas contadas.

Senhores profetas do desmantelo, é melhor acreditar nas previsões da Irmã Marlene, vidente que promete trazer o amor de volta em apenas três dias. Ela, pelo menos, acerta em 1% das possibilidades. Nas previsões das desgraças, o mundo já era um grande cemitério em potencial por causa da guerra. Argumento que deixou em sobressalto os crentes em Nostradamus. Hoje, fico me perguntando, a quem interessava o caos?

Diziam que os Estados Unidos atacariam o Irã, mas diziam também que o irã poderia retaliar com mísseis intercontinentais. Israel, o encrenqueiro da vez, não iria sossegar enquanto não atingisse muitos países do Oriente Médio. A Rússia estaria com o dedo coçando para mandar metade do mundo ao espaço. Pior seria se a China tomasse gosto pelo conflito, porque o estrago estaria feito. A barra pesou, mas deu uma acalmada. Amanhã é julho.

A população mundial tem medo de que uma guerra nuclear nos pegue no meio do caminho e modifique a vida na terra. Os dias foram dramáticos e sombrios em diversos países, por causa do clima da tragédia anunciada. Mais do que a guerra – volto a me questionar -, quem sai ganhando com o nosso temor? O que a nossa desordem emocional alimenta?

Eu sei que os riscos existiram. Existem. Mas essa coisa de que o mundo poderia explodir é terrorismo. De vez em quando surgem esses profetas anunciando que o fim é uma questão de tempo. Agora, foi a guerra. No ano 2000, a descoberta de um calendário da civilização Maia deixou muita gente em aflição. Só contava os dias até 31 de dezembro de 1999. Cá estamos em 2025.

As guerras trazem um aprendizado. Nesta de Israel e Irã, o recado foi dado: o que interessava à ultradireita era espalhar o medo e o ódio. Ficamos com a sensação de que a nossa vida é supérflua. Os donos do mundo se nutrem do nosso caos interior. Querem que a gente se sinta como quem boia na água.

Toda e qualquer guerra nos faz sentir descartáveis e inúteis como bonecos. Por serem violentas, colocam em xeque a nossa autoestima. Arruínam a nossa saúde mental porque agrava a ansiedade. E esfregam em nossa cara as nossas rigorosas limitações. A extrema violência nos objetifica.

Uma guerra como esta, que envolve armas com alto poder de destruição, sobre as quais não sabemos mensurar as consequências, não tem apenas a finalidade de destruição em si mesma, como seria de praxe. A destruição continua um objetivo, mas funciona também para nos prender em ameaças.

Penso que a finalidade primordial desta guerra é a intenção de subjugar a humanidade inteira a um projeto de poder. A possibilidade de um fim nos neutraliza e nos submete às potências e prepotências. Trata-se de um modelo de servidão ideológica, que mobiliza em nós os nossos inimigos internos mais poderosos. E através deles ficamos acorrentados: nossos traumas e medos.

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Leia um poema de Paulo Mendes Campos  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/palavra-de-poeta_22.html

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