04 julho 2025

Lula na contraofensiva

Lula defende taxar “merreca” dos ricos para beneficiar mais pobres
Durante anúncio de investimentos bilionários da Petrobras no RJ, presidente também elogiou relação com Congresso e defendeu negociação quando houver divergência
Priscila Lobregatte/Vermelho 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta sexta-feira (4), do anúncio de R$ 33 bilhões de investimentos da Petrobras no setor de refino e petroquímica, no Rio de Janeiro, que poderão gerar cerca de 38 mil empregos diretos e indiretos. A cerimônia ocorreu na Refinaria Duque de Caxias (Reduc). Em sua fala, Lula abordou a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, a taxação dos super-ricos e a sua relação com o Congresso. 

“Para que quem ganha até R$ 5 mil não tenha que pagar imposto, a gente decidiu que 141 mil pessoas, que ganham mais de R$ 1 milhão, paguem um pouco mais. Não estamos tirando de alguém que ganha nada, mas de quem ganha mais de um milhão por ano, estamos tirando uma merreca deles para dar às pessoas mais pobres”, defendeu Lula, que também disse almejar fazer do Brasil um país de classe média. 

O presidente afirmou que o Brasil “muitas vezes, foi governado para 35% da população. Governar para 100% exige mais sacrifícios, fraternidade, compreensão e carinho. O que é duro é que as pessoas não querem ceder, quem tem privilégio não quer abrir mão do privilégio”. 

Quanto às recentes dificuldades enfrentadas na relação com a Câmara e o Senado — sobretudo após a derrubada do decreto com o aumento do IOF —, Lula declarou: “Sou muito agradecido à relação que tenho com o Congresso. Até agora, nesses dois anos e meio, o Congresso aprovou 99% das coisas que mandamos”. 

E acrescentou: “Quando tem uma divergência é bom porque a gente senta à mesa, vai conversar e resolver. O governo pensa uma coisa, o Congresso está pensando outra, vamos resolver isso numa mesa de negociação. Não quero nervosismo porque eu só tenho um ano e meio de mandato”. 

Lula também falou sobre a disputa em 2026: “Tem gente que pensa que o governo já acabou e já está pensando na eleição. Eles não sabem o que estou pensando. Se preparem, porque se tudo for como estou pensando, esse país vai ter, pela primeira vez, um presidente eleito quatro vezes”. 

Economia em alta

Outro ponto destacado pelo presidente foi o atual cenário econômico. “O Brasil está vivendo um momento, se não extraordinário, de muita certeza e muita garantia. Não tem um número negativo neste país, a não ser a taxa de juros que não depende de nós, porque o BC tem autonomia e nós herdamos uma pessoa com uma febre muito alta, e para curar essa febre, leva tempo. Mas, podem estar certos de que os juros também vão entrar”. 

Como indicadores do atual momento, lembrou: “O dólar, que estava em mais de R$ 6, já está em R$ 5,40; a inflação está em 5%; o crescimento já surpreendeu em dois anos e vai surpreender outra vez. Nunca tivemos tanto crédito para pequenos, médios e grandes como temos hoje, nunca os microempreendedores tiveram tanto financiamento como têm”. 

Além disso, acrescentou: “Voltamos a construir o Minha Casa, Minha Vida, que ficou parado por quatro anos — prometeram uma tal de Casa Verde Amarela que nunca saiu. E estamos também vivendo o melhor momento da renda salarial, de aumento do salário mínimo, de menor desemprego da história do país e de muita respeitabilidade no mundo”.  

Em recado ao agronegócio, majoritariamente alinhado à extrema direita, salientou: “Em três anos, em três Planos Safra, colocamos à disposição do agronegócio R$ 1,7 trilhão, somado com a agricultura familiar, valor que é o dobro do que foi feito em todos os quatro anos do governo passado. E não fazemos isso na perspectiva de que o agronegócio vai gostar do Lula, eu não estou propondo casamento. Faço isso porque o agronegócio é importante para a economia brasileira”. 

Petrobras

Em seu discurso, Lula disse estar “muito orgulhoso da Petrobras, dos investimentos que estamos fazendo, de voltarmos a investir na indústria naval, na formação profissional e na contratação de mais gente, porque é isso que faz um país ser grande”. 

Ele também defendeu o uso do combustível fóssil para financiar a transição energética: “Não vou abrir mão do petróleo brasileiro para os outros explorarem. Quero que a gente faça da forma mais saudável e responsável possível. Tenho muito orgulho de a Petrobras ser uma empresa que leva muito a sério a questão climática. Não queremos prejudicar nada, mas não queremos abrir mão da riqueza do nosso país e de favorecer o nosso povo”. 

Dentro dos valores anunciados, um dos principais destaques no campo da infraestrutura é o projeto do Complexo de Energias Boaventura, em Itaboraí, e sua integração com a Reduc. 

O complexo receberá um total de investimentos estimado em R$ 26 bilhões, com projeção de geração de 30 mil postos de trabalho diretos e indiretos. Conforme o Ministério de Minas e Energia, a nova estrutura ampliará significativamente a produção de combustíveis essenciais, como diesel S-10, querosene de aviação e lubrificantes grupo II. Além disso, o complexo também se dedicará à produção de itens renováveis, como HVO (Hydrotreated Vegetable Oil) e SAF (Sustainable Aviation Fuel). 

Segundo anunciado, a Reduc já obteve autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para produzir SAF com até 1,2% de óleo de milho no querosene de aviação (QAV). De acordo com o governo, a iniciativa posiciona o refino da Petrobras na vanguarda da produção de combustíveis mais limpos, permitindo o atendimento antecipado da regulamentação para redução de emissões de voos internacionais e antecipa exigências da Lei do Combustível do Futuro. 

Outro avanço é o desenvolvimento do Diesel R7, com 7% de conteúdo renovável. A Reduc, que já produz Diesel R5, recebeu autorização da ANP para iniciar os testes com o novo teor ainda este mês. Em linha com a economia circular, a Reduc poderá converter unidades para rerrefinar óleos usados, gerando produtos de alto valor a partir de resíduos, com testes de coprocessamento previstos para setembro.

Já os investimentos na área petroquímica incluirão a expansão da planta de polietileno da Braskem — da qual a Petrobras detém 47% do capital votante — que aumentará sua capacidade produtiva em até 220 mil toneladas por ano. Orçado em R$ 4,1 bilhões, o projeto poderá gerar cerca de 7.500 empregos diretos e indiretos. 

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