21 junho 2018

Por onde vamos?


O foco da luta política atual
José Bertotti* 

As eleições de 2018 são o “centro de gravidade” da luta política em 2018. Essa é uma afirmação do presidente da Fundação Maurício Grabois, Renato Rabelo. Ter esse entendimento significa alcançar de fato a extensão do golpe jurídico, parlamentar, midiático, que afastou a presidente Dilma e permitiu o avanço avassalador do projeto neoliberal, derrotado nas últimas quatro eleições presidenciais. Esse projeto assume agora, sob a mais absoluta falta de legitimidade, ares de projeto neocolonial. Vinculando os destinos da nação brasileira a interesses estrangeiros, representados de maneira exemplar por acionistas das nossas principais empresas sempre ligados ao grande capital financeiro internacional.

A primeira grande derrota imposta aos trabalhadores após o golpe foi a aprovação de uma reforma trabalhista que retira direitos dos trabalhadores, enfraquecendo a representação sindical. Ele permite que o negociado por cada categoria se sobreponha a previsão legal de garantias previstas na legislação trabalhista. Acrescido disso mudanças no sistema de contribuição sindical reduziram em 80% os recursos arrecadados por sindicatos em todo o Brasil, quando comparados com o mesmo período de 2017, segundo dados do Jornal Valor Econômico de 4 de maio de 2018.

Dessa forma com a sua representação enfraquecida os trabalhadores tendem a sofrer novas derrotas na luta contra o capital que poderá aumentar com mais facilidade suas margens de lucro em detrimento dos salários dos trabalhadores.

Outra pedra de toque do projeto imposto a partir do impeachment é a política de entrega do setor energético brasileiro, configurado na tentativa de privatização do Sistema ELETROBRAS e na entrega, para interesses privados, da gestão da PETROBRAS. Para exemplificar, no caso da PETROBRAS, com a adoção da política de preços dos combustíveis que vincula o preço pago na bomba de combustível a variação do dólar e dos preços internacionais do petróleo, o povo brasileiro custeia lucros de até 233% no combustível que sai das nossas refinarias. Esse preço também é impactado pelo desmonte do parque de refino de combustíveis, com claro propósito de privatizá-lo.

Esse caminho aumenta a dependência nacional de produção de combustíveis fazendo com que o Petróleo hoje produzido no Brasil seja exportado e depois recomprado na forma de derivados do Petróleo, produzidos principalmente nos EUA e comprados em dólar. Esse caminho encarece artificialmente o preço pago pelos brasileiros, com a única intenção de valorizar os ativos da companhia, hoje já dominada por interesses geopolíticos do grande capital financeiro. Na mesma linha segue a lógica de privatizar o Sistema ELETROBRAS.

Por isso não nos resta alternativa, que não seja lutar para vencer as eleições de 2018 para restaurar a democracia em nosso País e barrar o projeto em curso. Esse projeto até agora tem colhido vitórias na implementação de suas propostas. Porém, com danos desastrosos para economia nacional, que acumula duas quedas consecutivas do PIB e mais de treze milhões de desempregados. Isso tudo tem um custo já precificado anteriormente pelos golpistas, e tem sido a causa de uma profunda crise social, com agravamento dos índices de violência e retorno a situação de extrema pobreza de milhões de brasileiros. 

Essa grave crise tem enfraquecido o consórcio conservador impedindo que o mesmo apresente uma candidatura presidencial representativa da direita brasileira, abrindo espaço para uma candidatura de extrema direita, colocando de fato a alternativa fascista com competitividade para disputar o governo do Brasil.

Para exemplificar, a última eleição da França foi disputada entre um candidato de direita e outra candidata representante da extrema-direita, que possuía um programa de clara inspiração fascista.

O campo progressista no Brasil hoje se encontra representado por várias candidaturas presidenciais e inúmeros arranjos regionais com vários interesses locais específicos, como é típico de eleições gerais no Brasil. No entanto quando somadas as intenções de voto dos candidatos progressistas para as eleições Presidenciais, essas pesquisas nos dão uma teórica vantagem até o momento.

No entanto, o nome mais lembrado nas pesquisas de opinião é exatamente o do Presidente Lula, que se encontra injustamente preso e virtualmente impedido de disputar as eleições. Não apenas por impedimentos da legislação eleitoral que de fato podem ser questionados, mas principalmente porque o golpe foi dado exatamente para prendê-lo e seria até ingenuidade imaginar que por livre e espontânea vontade do consórcio golpista ele seria libertado para disputar essas eleições.

Por isso não basta o enfraquecimento do consórcio golpista para disputarmos com chance de vitória essas eleições. Torna-se necessária unidade desse campo progressista que tenha interesse real de barrar o projeto neoliberal e neocolonial imposto ao Brasil.

Essa unidade deve passar em primeiro plano por um projeto político e programático claro que apresente alternativas de desenvolvimento do Brasil. Nesse sentido as Fundações partidárias do PCdoB, PT, PSOL e PDT assinaram um manifesto unitário, que teve participação do PSB na sua elaboração. Esses mesmos partidos preparam agora o lançamento de uma Frente Parlamentar que possa agregar outros participantes para além da sua própria representação para, desde já, impedir no Congresso Nacional o avanço esse projeto antinacional.

Consideramos que dessa forma pode ser construído um caminho que possa nos levar a vitória nas urnas em 2018. Porém é absolutamente necessário que esses partidos, despidos de qualquer hegemonia, possam se unir em torno de um programa identificando a partir daí qual a melhor tática para enfrentarem essas eleições.

O PCdoB disputa desde já com excelente desenvoltura da sua pré-candidata a Presidente Manuela D’Ávila, a defesa das ideias estipuladas no manifesto das Fundações Partidárias. Mas de antemão a própria Manuela afirma que em nome da unidade admite discutir uma alternativa comum que envolva todos os partidos e segmentos da sociedade que almejam garantir a realização das eleições em 2018, com a finalidade barrar o projeto golpista vinculado ao grande capital financeiro, abrindo espaço para a construção de um Projeto Nacional de Desenvolvimento, que valorize o trabalho e a produção como elementos chaves desse projeto.
*Presidente do PCdoB no Recife

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