25 agosto 2019

Futebol moderno


Equilíbrio é essencial desde que acompanhado de improvisação

Tostão, Folha de S.Paulo

O matemático Marcelo Viana, em um artigo na Folha na quarta-feira (21) com o título “O mundo é feito de simetrias”, escreveu que as simetrias estão presentes nos seres vivos, nos minerais, na física, na pintura, na música e em todos os outros tipos de arte.
Uma das grandes experiências humanas, psicológicas, é quando a criança descobre sua imagem no espelho. É o esboço do ego.
A simetria está presente também no futebol. Há, em cada equipe, na prancheta, didaticamente, de cada lado, um zagueiro, um lateral, um volante, um meia ou um ponta e um atacante.
Os dois atletas de cada posição costumam ter características complementares, simétricas.
Geralmente, um zagueiro viril e outro clássico; um lateral mais apoiador e outro mais marcador; um primeiro e um segundo volantes (um para desarmar e outro mais hábil); um ponta ou um meia pelo lado, mais veloz, e outro mais construtor; e um atacante mais fixo (centroavante) e outro que se movimenta mais. O goleiro de um time é o duplo do goleiro do outro.
A busca pela simetria deve ter sido a razão de os ingleses, descobridores do futebol, terem decidido que seriam dez de cada lado, cinco duplas de dois, além dos dois goleiros.
No futebol, é essencial a simetria, a harmonia, o equilíbrio, desde que acompanhados por momentos de flexibilidade, de improvisação, de inventividade e de linhas tortas e curvas. A linha reta não sonha.
As decisões é que precisam ser feitas corretamente, no momento certo, e serem bem executadas. Lances inesperados, surpreendentes, são fundamentais, importantes e decisivos, como o petardo de Gustavo Scarpa, no gol do Palmeiras contra o Grêmio.
A bola, em alta velocidade, parecia dar cambalhotas, até entrar no gol. Escutei, várias vezes, que o goleiro falhou. Nem Alisson defenderia. Penso, ainda, que os goleiros costumam ser mais criticados que deveriam.
Um dos destaques do Flamengo é a ampla movimentação dos quatro jogadores mais adiantados. Possuem referências (Gabigol e Bruno Henrique, pelo centro, e Éverton Ribeiro, Arrascaeta ou Gérson, pelos lados, que voltam para marcar), mas não param de correr. Ocupam todas as posições de ataque. É uma anarquia harmônica.
No segundo gol contra o Inter, Gabigol e Bruno Henrique estavam próximos, pelo centro, formando uma dupla de atacantes. Gabigol deu o passe para Bruno Henrique.
Enquanto isso, o eficiente, simétrico, harmônico e equilibrado time do Inter, que pouco improvisa, tentava repetir, contra o Flamengo, a mesma estratégia dos jogos fora de casa na Copa do Brasil, contra o Palmeiras, quando perdeu por 1 a 0, e contra o Cruzeiro, quando venceu por 1 a 0. Dessa vez, não deu certo. Perdeu por dois gols de diferença. Faltou ao Inter lances surpreendentes.
Palmeiras e Flamengo têm mais chances de passar à semifinal da Libertadores, mas nada está decidido.
O Grêmio costuma jogar bem fora de casa, em decisões, e o Inter se agiganta no Beira-Rio. Mas vai precisar de algo mais, talvez a presença, desde o início, de um driblador, como Wellington Silva, e que D’Alessandro não jogue apenas para marcar o lateral.
O ser humano, os filósofos, os atletas, os treinadores e as equipes vivem, na vida e no futebol, dilemas logísticos e existenciais. Estão sempre em dúvida, divididos sobre qual é o melhor caminho, entre o desejo e a razão, entre o que é e o que poderia ter sido, entre o ser e o nada.
[Ilustração: LS]
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