31 dezembro 2020

Entrevista: dois ciclos na gestão pública

 


Após 16 anos, Luciano deixa cargo de vice no Recife

O comunista afirmou ao LeiaJá que não pretende se aposentar da política: 'volto a ser cidadão comum e militante com toda honra'

Giselly Santos, LeiaJá

 

Dezesseis anos. Este é o tempo que Luciano Siqueira (PCdoB) completa, nesta quinta-feira (31), como vice-prefeito do Recife, tendo um intervalo de apenas quatro anos (2008 a 2012). De 2001 a 2008 foi vice do então prefeito João Paulo, filiado na época ao PT e hoje ao PCdoB, já de 2013 até agora, foi auxiliar de Geraldo Julio (PSB) na condução da capital pernambucana. Siqueira, que entra para história da gestão pública em Pernambuco pelo marco de 16 anos como vice, será substituído pela primeira mulher a ocupar o cargo no Recife, Isabella de Roldão (PDT). 

Com 74 anos de idade, o potiguar que mora na capital pernambucana desde os 15, afirmou ao LeiaJá que não vai se aposentar da política e a partir desta sexta-feira (1º) se dedicará mais ativamente à militância e às suas atividades partidárias, já que integra as direções nacional e estadual do PCdoB.

“Fiquei os 20 anos mais recentes nessa esfera institucional, 16 como vice, dois como vereador do Recife e dois como deputado estadual. Tenho responsabilidades nas direções nacional e estadual no partido, provavelmente não exercerei mais função nenhuma em governos”, disse. 

“A militância tem sido uma fonte permanente de aprendizado e felicidade pessoal. Meu plano é não parar. Dia 1º de janeiro vou colocar nas minhas redes sociais: a partir deste instante volto a ser cidadão comum e militante com toda honra”, completou o comunista.

Um vice nada figurativo

Para ser vice-prefeito por tanto tempo, Luciano Siqueira afirmou que não tinha fórmula pronta, mas garantiu que durante este período não deixou o estereótipo de “cargo meramente figurativo” valer. 

“Um vice ativo pode ajudar em tudo, tanto nas relações internas no governo - e essa foi a minha maior experiência - como também na relação com a sociedade e seus diversos segmentos”, afirmou, pontuando ainda uma particularidade: “tenho contato diário com o povo do Recife”. Luciano contou que durante os últimos anos compartilhou seu único contato pessoal com os recifenses que o buscaram e contava com a ajuda da sua equipe para não deixar nenhum sem resposta.

“Aprendi muito com os dois prefeitos, mas aprendi muito mais com a população. Ousaria dizer que o que há de melhor no Recife é o seu povo. O povo enfrenta muitas dificuldades, mas é também um povo guerreiro e generoso. Aprendi com Arraes, converse sempre olhando nos olhos das pessoas e seja sincero. Dizer não com sinceridade não contempla o pleito, mas o nosso povo se sente respeitado”, enfatizou. 

Questionado sobre o balanço que fazia dos anos em que esteve auxiliando a gestão do Recife, Luciano Siqueira enalteceu João Paulo e Geraldo Julio.

“Tive a felicidade de ter mantido com os dois prefeitos um relacionamento muito amigo e solidário, pude trabalhar intensamente tanto nos oito anos com João Paulo como com Geraldo, creio que a avaliação que eu possa fazer em boa parte se confunde com a própria avaliação desses dois governos. O de João Paulo promoveu uma inversão estratégica na prefeitura, reaproximou a gestão do povo da cidade, realizou intervenções e programas de muita expressão, basta lembrar da urbanização da orla de Brasília Teimosa, expandimos também a rede básica de atenção à saúde para a população e na educação zeramos o déficit de crianças sem acesso à escola. Foi um conjunto de intervenções e conquistas muito importantes”, listou. 

“Com Geraldo pudemos comemorar muitas conquistas, costumo sublinhar principalmente a recuperação do planejamento urbano como um dos vetores principais da gestão pública, algo que havia se perdido desde o tempo de Pelópidas Silveira, nas gestões que se sucederam, a despeito de méritos que todas elas podem ostentar, o planejamento urbano ficou em segundo plano, e com Geraldo se recupera. Praticamente em quase todas as áreas temos um sucesso administrativo expressivo”, emendou.

Passando o bastão

Desde 2016, com um vice (Michel Temer) assumindo o comando do país após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o cargo tomou mais expressividade na política nacional e estadual. Em Pernambuco, o que vimos com frequência nos últimos anos foram prefeitos e vices rompendo politicamente, causando desgastes na condução das cidades. Indagado sobre quais conselhos daria para quem assume o cargo de vice a partir de amanhã nas cidades, Siqueira pontuou que a lealdade ao titular deve ser característica base de quem ocupa o posto.

“Não tenho fórmula, apenas quando converso com os vices, e tenho oportunidade de fazer isso com certa frequência com os do meu partido, costumo dizer que o PCdoB orienta seus vices para em primeiro lugar contribuírem para a unidade do governo em torno das propostas apresentadas na campanha eleitoral e segundo lugar o vice tem o dever de lealdade ao titular. Sempre disse a João e Geraldo, se eu tiver divergências secundárias com suas decisões, vou trabalhar para fazer como decidiu. Se eu tiver divergências essenciais só nós dois vamos saber. Nunca expus qualquer divergência, nem nunca farei isso. Não pode brigar, se brigarem, o vice deixa de trabalhar e não foi para isso que ele foi eleito”, aconselhou.

Quanto a Isabella de Roldão, que será a nova vice-prefeita do Recife, Luciano disse que se sentia feliz em passar o cargo para ela. “Sou feminista militante desde os anos 80, estou muito feliz em passar o cargo para Isabella. Além do que, confio muito nela. Ela reúne qualidades que poderão fazer não apenas a primeira mulher vice-prefeita, mas uma vice competente”, afirmou.

Veja: Obstáculos à existência de partidos de base popular https://bit.ly/34vKu7c

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