26 fevereiro 2021

Palavra de poeta

 

A ONÇA DA ESPERANÇA

Marcelo Mário de Melo

 

Entrando em corpo de onça

a Esperança no ataque

em vez de esperar o lance

pega a bola dá o saque

entoa o grito de alerta

toca corneta e atabaque.

Afia as garras e parte

removendo entulho e tralha

ferrugem mofo zinhavre

lacuna trava e falha

veste roupa de combate

arranca trapo e mortalha.

A Esperança agora

atiça o amanhecer

vai a campo e observa

o que faz esmorecer

os descaminhos nas mentes

e nos modos de fazer.

Para o sonho avançar

é preciso trilha certa

semente sã e cuidado

janela ampla e aberta

o sol da veracidade

aceno e grito de alerta.

A Esperança é uma malha

feita em ampla tecelagem

uma colcha de retalhos

de persistência e coragem

juntando peça por peça

em gesto ação e linguagem.

A onça da Esperança

depende assim desses fios

por isso ela observa

nascentes brotos pavios

o mar querendo saber

se correm certos os rios.

A força da Esperança

se constrói na pedra dura

no olho desamarrado

no combate à impostura

na peneira onde se lavam

o erro e a amargura.

Ela não é menininha

princesa em conto de fada

madame ou cortesã

inocente namorada

mas mulher experiente

subterrânea e alada.

A Esperança exigente

quer ver o ponto no nó

alicerces e estacas

a mistura a massa o pó

a ferramenta afiada

quem afia e a pedra-mó.

 

[Ilustração: Montez Magno]

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