Países ricos doam
vacinas usando critério geopolítico, não epidemiológico, diz Lancet
Abordagem
geopolítica "não apoiará as nações com maior necessidade de doses de
vacina e perpetuará a desigualdade global da vacina", afirma a publicação
Cintia Alves, Jornal GGN
A revista científica The Lancet publicou um artigo no último dia 8 indicando que os países ricos têm feito doações de vacinas contra Covid-19 seguindo sobretudo critérios não epidemiológicos, mas geopolíticos, sem considerar a situação da pandemia de coronavírus em cada país candidato à doação.
“As
nações que doam vacinas bilateralmente (…) têm usado suas doações mais como um
meio de cimentar esferas de influência do que para promover a igualdade global
de vacinas e acabar com esta pandemia”, afirma a publicação.
As
maiores economias do mundo têm comprado vacinas extras de vacinas ou usado
parte do estoque que fizeram no último ano de duas formas: doando uma fração à
iniciativa Covax Facility – que tampouco segue critérios estritamente
sanitários na sua redistribuição – e repassando o restante diretamente aos
países aliados, de acordo com as conveniências.
A
Lancet diz que os critérios de distribuição adotados pelo consórcio Covax
visam, teoricamente, democratizar o acesso à vacina ao maior número de países,
mas tampouco observa os focos da pandemia ao redor do globo. Mais de 100 países
conveniados devem imunizar no máximo 20% de suas populações via Covax. Mas isso
não significa que países como Índia e Brasil, que têm sofrido com altos índices
de mortalidade e surgimento de novas variantes da Covid, por exemplo, serão
priorizados.
O
artigo é divulgado na mesma semana em que os Estados Unidos anunciaram em
reunião do G-7 – as sete maiores economias do mundo – que comprarão mais 500
milhões de doses da vacinas contra coronavírus da Pfizer para doar a outras
nações. O governo de Joe Biden já havia prometido, anteriormente, mais de 80
milhões de doses para doação. O Brasil – que é o terceiro país em número de
casos e segundo em óbitos por covid, com quase 480 mil vítimas fatais – ficou
de fora da lista de beneficiados das 500 milhões de doses, apesar de ser um epicentro
da crise sanitária, ameaçando também a segurança dos vizinhos de continente.
A
Lancet alerta que países da América Latina estão entre aqueles que terão “as
maiores taxas de mortalidade por Covid-19 nos próximos três meses”, de acordo
com projeção de especialistas, mas receberam “o menor número de vacinas até o
momento”.
“Em
contraste, projeta-se que a maioria dos países da região Ásia-Pacífico
apresentam taxas de mortalidade por COVID-19 mais baixas do que em outras
regiões, mas receberam quase 60% de todas as doações de vacinas até agora.” A
região atrai o interesse de países riscos que tentam contrabalancear as
influências locais da China. A Índia – que é o segundo em casos e terceiro em
mortes, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins – é um exemplo. O
governo indiano “direcionou suas maiores doações de vacinas para muitos dos
mesmos países que a China, disputando influência na região da Ásia-Pacífico.”
Enquanto
isso, a Rússia doou mais vacinas aos países que “consideraram a compra da Sputnik
V”. Enquanto escanteiam o Brasil, os Estados Unidos miram bolsões na África e
Caribe, além de aliados ricos como Canadá, Coreia do Sul e Taiwan.
Até
os atletas que deverão participar das Olimpíadas em Tóquio já receberam mais
promessas de doação de vacinas dos países ricos do que Peru, África do Sul e
Ucrânia, onde os casos de coronavírus começam a aumentar, diz a Lancet.
“Embora
compreensível de uma perspectiva diplomática”, essa abordagem geopolítica na
distribuição das vacinas “não apoiará as nações com maior necessidade de doses
de vacina e perpetuará a desigualdade global da vacina”, finaliza a publicação.
Leia
a íntegra aqui.
Veja: Ampliar a frente democrática para evitar o pior https://youtu.be/VKvI9Ht196U
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