RESGATAR O FORRÓ É MISSÃO SAGRADA
Enio Lins www.eniolins.com.br
Parece que o velho e bom tempo junino, mui particularmente marcante no Nordeste, está sofrendo algo parecido com uma implosã ;o, ou esmagamento, em suas características de estilo musical vinculado à festividade solsticial.
Será que, tal qual o submarino turístico que buscava ver os restos do Titanic – presumivelmente implodido –, a pressão externa superior (do dinheiro) à pressão interna (da cultura) vai esmagar o forró como máxima expressão musical junina?
Tem aumentado a pressão interna em defesa da vida do forró, isso é verdade; mas a força externa é brutal e consome milhões de reais, sugando dinheiro público para os bolsos de modalidades artísticas distanciadas das raízes juninas nordestinas.
RAÍZES MARGINALIZADAS
Não é só em Maceió que se nota um cenário de esmagadura das tradições forrozeiras numa ação entre o poder público local e artistas visitantes com cachês milionários. Nas mecas do São João nordestino, como Caruaru e Campina Grande, isso também acontece.
Diz o site pernambucano marcozero.com.br sobre Caruaru: “o gênero cantado por Gonzaga passou a ter cada vez menos espaço no grandioso polo. E, não por coincidência, a quantidade de atrações sertanejas aumentou (neste ano, são 13 delas)”.
E segue: “Por outro lado, vozes importantes do forró como Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro e Joana Angélica ficam de fora do Pátio de Eventos”. E notem que em Caruaru são 65 dias de festa, começadas em 28 de abril e a findar em 1º de julho (!).
PRAGA ARRASADORA
“Fogueira, milho e forró. Nada remete mais ao São João do que este combo tradicional para a época. No entanto, embora eternizado em diversas canções juninas, o forró parece estar cada vez mais perdendo o protagonismo dentro da festa que o consagrou”.
Essa constatação acima é do site atarde.com.br, versão digital de um dos mais importantes jornais soteropolitanos, que complementa denunciando: “Outra queixa é a escassez de artistas locais nas grandes festas anunciadas na Bahia (...)”.
Flávio José, ídolo do forró, protestou veementemente, no dia 2 de junho, em Campina Grande, por ter sua apresentação reduzida em 20 minutos, enquanto, na sequência, o sertanojo Gustttavo Lima se espalhou no mesmo palco por mais de duas horas.
MILHO E MILHÃO, UMA QUESTÃO
Milho e forró são (eram?) as marcas nordestinas para os festejos juninos, e independentemente de ter se iniciado nessa Região, aqui se consolidaram e daqui se espalharam. Agora, “milhão & qualquer hit” virou símbolo da festa.
Interessante constatar que, tal qual rojão, cachês milionários (de não-forrozeiros) estouram e sobem aos céus como símbolo do “show business”; fogueiras devoram milhões em recursos públicos – e não só no São João.
Enquanto isso, ficam à mingua os grupos populares de forró que – em todo Brasil – tinham esta época do ano para faturar um pouco mais; alguns literalmente driblando, em junho, a fome acumulada em 11 meses. É covardia tirar o pão dessa turma.
EVOLUÇÃO X INVOLUÇÃO
Tudo se transforma, nada fica indefinidamente como estava. Mas a preservação das raízes culturais são fundamentais para a humanidade em qualquer lugar; são lições, ensinamentos que retransmitem riquezas imateriais por gerações.
Festas juninas e forró são valores intangíveis que marcam trajetórias de povos que se miscigenaram durante séculos e, no Nordeste do Brasil, uniram traços das antigas celebrações à deusa romana Juno, com elementos afro e indígenas.
São José, Santo Antônio e São João formam a tríade católica que ocupou as atribuições de Juno. E o forró – fundindo estilos europeus, africanos e indígenas – se consolidou ao longo do século XX como trilha sonora nordestina no solstício de inverno.
Destruir tudo isso é involuir. É descaracterizar traços de uma evolução cultural e sociológica que personaliza toda uma Região e conta séculos de história através do xote, do baião, do xaxado. Esse patrimônio não pode, nem deve, ser atirado às chamas.
*
Fotografia: Uma rua de Milão ao olhar de Alexandre Ramos https://tinyurl.com/4n4ct37f
Será que, tal qual o submarino turístico que buscava ver os restos do Titanic – presumivelmente implodido –, a pressão externa superior (do dinheiro) à pressão interna (da cultura) vai esmagar o forró como máxima expressão musical junina?
Tem aumentado a pressão interna em defesa da vida do forró, isso é verdade; mas a força externa é brutal e consome milhões de reais, sugando dinheiro público para os bolsos de modalidades artísticas distanciadas das raízes juninas nordestinas.
RAÍZES MARGINALIZADAS
Não é só em Maceió que se nota um cenário de esmagadura das tradições forrozeiras numa ação entre o poder público local e artistas visitantes com cachês milionários. Nas mecas do São João nordestino, como Caruaru e Campina Grande, isso também acontece.
Diz o site pernambucano marcozero.com.br sobre Caruaru: “o gênero cantado por Gonzaga passou a ter cada vez menos espaço no grandioso polo. E, não por coincidência, a quantidade de atrações sertanejas aumentou (neste ano, são 13 delas)”.
E segue: “Por outro lado, vozes importantes do forró como Jorge de Altinho, Alcymar Monteiro e Joana Angélica ficam de fora do Pátio de Eventos”. E notem que em Caruaru são 65 dias de festa, começadas em 28 de abril e a findar em 1º de julho (!).
PRAGA ARRASADORA
“Fogueira, milho e forró. Nada remete mais ao São João do que este combo tradicional para a época. No entanto, embora eternizado em diversas canções juninas, o forró parece estar cada vez mais perdendo o protagonismo dentro da festa que o consagrou”.
Essa constatação acima é do site atarde.com.br, versão digital de um dos mais importantes jornais soteropolitanos, que complementa denunciando: “Outra queixa é a escassez de artistas locais nas grandes festas anunciadas na Bahia (...)”.
Flávio José, ídolo do forró, protestou veementemente, no dia 2 de junho, em Campina Grande, por ter sua apresentação reduzida em 20 minutos, enquanto, na sequência, o sertanojo Gustttavo Lima se espalhou no mesmo palco por mais de duas horas.
MILHO E MILHÃO, UMA QUESTÃO
Milho e forró são (eram?) as marcas nordestinas para os festejos juninos, e independentemente de ter se iniciado nessa Região, aqui se consolidaram e daqui se espalharam. Agora, “milhão & qualquer hit” virou símbolo da festa.
Interessante constatar que, tal qual rojão, cachês milionários (de não-forrozeiros) estouram e sobem aos céus como símbolo do “show business”; fogueiras devoram milhões em recursos públicos – e não só no São João.
Enquanto isso, ficam à mingua os grupos populares de forró que – em todo Brasil – tinham esta época do ano para faturar um pouco mais; alguns literalmente driblando, em junho, a fome acumulada em 11 meses. É covardia tirar o pão dessa turma.
EVOLUÇÃO X INVOLUÇÃO
Tudo se transforma, nada fica indefinidamente como estava. Mas a preservação das raízes culturais são fundamentais para a humanidade em qualquer lugar; são lições, ensinamentos que retransmitem riquezas imateriais por gerações.
Festas juninas e forró são valores intangíveis que marcam trajetórias de povos que se miscigenaram durante séculos e, no Nordeste do Brasil, uniram traços das antigas celebrações à deusa romana Juno, com elementos afro e indígenas.
São José, Santo Antônio e São João formam a tríade católica que ocupou as atribuições de Juno. E o forró – fundindo estilos europeus, africanos e indígenas – se consolidou ao longo do século XX como trilha sonora nordestina no solstício de inverno.
Destruir tudo isso é involuir. É descaracterizar traços de uma evolução cultural e sociológica que personaliza toda uma Região e conta séculos de história através do xote, do baião, do xaxado. Esse patrimônio não pode, nem deve, ser atirado às chamas.
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Fotografia: Uma rua de Milão ao olhar de Alexandre Ramos https://tinyurl.com/4n4ct37f
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