Homens inclinados
pelo peso do tempo
Luciano Siqueira
Domingo de manhã cedo, rua do Futuro, proximidades do Parque da Jaqueira. Caminhando pela calçada a gente escuta muita conversa, aos fragmentos, de ciclistas que trafegam pela ciclofaixa.
— Nessa rua tem
tanto boy bonito, mas tudo inclinado para frente!
O veredito é de uma ciclista
de meia idade que segue logo atrás de um bi ciclo onde iam duas amigas.
— Isso é com você
também, esclarece Luci. “Inclinado” é levemente corcunda por causa da idade
avançada.
Epa! Comigo não.
Não me incluo entre
os transeuntes bonitos observados pela ciclista.
Bonito nunca fui, sequer
ainda bebê. Pelo menos é o que se vê numa foto em que eu, com alguns meses de
vida, ainda de fralda, exibo a cabeçorra que até hoje me acompanha.
E no curso da vida,
já rapaz e líder estudantil, fui classificado em segundo lugar em improvisado o
concurso de feiura.
Então, definitivamente não estou entre os homens bonitos observados pela coroa ciclista.
Porém ainda não estou entre os inclinados para a frente, creio, pois
me mantenho hígido e de fronte erguida pela força das convicções que me
norteiam em mais de sete décadas de resistência.
Redução do tônus muscular,
sim. Rugas no rosto, muitas. Mas caminhando a passos firmes.
A vida é assim.
Tanta gente bonita que chega a impressionar a quem observa com algum critério
generoso, porém a estampa avariada pelo transcorrer do tempo!
Sigamos em frente. E
se possível caminhando cedo pela agradável e arborizada rua do Futuro.
A vida a cores e em branco e preto https://bit.ly/3Ye45TD
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