“Meu Centro, Minha Vida” é a bola da vez?
Enio Lins*
Na quinta-feira, 13, durante cerimônia da sanção presidencial ao novo “Minha Casa, Minha Vida”, Lula, o presidente, tocou em dois pontos importantes, dentre os essenciais, para a questão da habitação popular (que não é coisa simples).
Nenhuma novidade, verdade, no dito por Luiz Inácio – mas, inovadoramente, ele recolocou na mesa questões antigas e pendentes, trazendo-as para o centro das atenções e como desafio para os próximos passos governamentais nesse caminho.
Ponto 1: defendeu o uso de imóveis de propriedade pública que estejam ociosos. Edificações, lotes, glebas urbanas que sejam próprios da União, ou dos Estados, ou dos municípios, seriam disponibilizados para habitações populares.
Ponto 2: construir conjuntos habitacionais perto do centro e/ou perto dos locais de trabalho, como forma de racionalizar o transporte – reduzindo custo e tempo – entre a moradia e o emprego, e agregando serviços (escolas, postos de saúde...).
Sabemos que essas não são as únicas questões importante no drama habitacional brasileiro, mas são aspectos muito valiosos e que, historicamente, têm sido deixados de lado – inclusive nas primeiras versões do “Minha Casa, Minha Vida”.
Mormente, desde os anos 60, têm prevalecido os interesses da especulação imobiliária, puxando os negócios de compra (com dinheiro público) dos terrenos para conjuntos habitacionais para áreas ermas e desvalorizadas pelo mercado.
Buscando multiplicar a rentabilidade, o mercado se desinteressa pela requalificação de áreas centrais ou próximas aos centros urbanos, pois é mais simples e garantia de lucros maiores instalar centenas de moradias em “solo virgem”.
Em verdade, quando se trata de conjuntos habitacionais com muitas centenas de moradias torna-se bem difícil, ou inviável, localizar áreas disponíveis perto dos epicentros urbanos. Sim, sim. Mas não precisavam ser tão isolados do mundo, como em vários casos.
É o caso do Benedito Bentes na época de sua construção. Não havia nada em torno, nenhum serviço próximo. Era uma ilha no meio do nada e a partir desse fato geraram-se problemas, como os segurança, que ainda hoje afligem a região, 37 anos depois de inaugurado.
Poder-se-á dizer em defesa da localização exilada do Conjunto Benedito Bentes, que isso gerou um grande bairro, inteiramente novo, em Maceió. É verdade, mas a um custo muito pesado para os moradores do local durante mais de três décadas.
Voltando ao exemplo alagoano, pode-se pensar em áreas residenciais renovadas no velho centro de Maceió e nas suas proximidades – feitas em simultâneo com obras urbanas voltadas para melhorar a mobilidade. Arapiraca também poderia ser alvo desse tipo de solução.
Estariam descartados novos bairros, planejados como área de expansão urbana? Não, de forma alguma. Apenas terão de ser – verdadeiramente – planejados como áreas de expansão, dotados de serviços e eficientes rotas de acesso, algo de maior fôlego.
Novos bairros precisam ser entendidos e propostos como forma de racionalização para o crescimento das cidades, como áreas humanizadas e não alvos de aventuras desbravadoras do tipo dos pioneiros dos filmes sobre o Velho Oeste americano.
Voltar os olhares aos centros urbanos deteriorados e abandonados como áreas residenciais é uma ótima ideia para parte dos investimentos do novo “Minha Casa, Minha Vida”, até porque sinaliza uma maior sinergia com o mercado de trabalho.
Facilitar o transporte coletivo e aliviar o trânsito urbano é uma necessidade estratégica, especialmente em cidades desprovidas de planejamento anterior para ocupação e uso do solo – como Maceió, por exemplo. Repovoar o centro é ótima opção nesse campo.
Em resumo: maravilhosa ideia. Mas para dar certo precisa do apoio das prefeituras.
*Jornalista profissional, chargista e ilustrador e arquiteto; mantém o site www.eniolins.com.br
Atores de Hollywood fazem greve pela primeira vez em 43 anos em parte por temores sobre o impacto da inteligência artificial (IA) https://tinyurl.com/na4kx69b
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