Gestos de civilidade política e convivência democrática
Enio Lins*
Um dos traços civilizatórios mais significativos é a convivência entre contrários; é algo anterior e superior ao próprio conceito democrático – posto este só ter sido estabelecido depois de uma boa dose de evolução social e política.
Solidariedade é atitude fundamental no chamado “mundo cão” da evolução das espécies. Dizem que a antropóloga Margaret Mead disse que o primeiro sinal de civilização humana é o fóssil de “um fêmur quebrado e curado”.
Teria dito Mead que um osso encontrado nessas condições comprovou que as criaturas humanas se apoiavam ancestralmente, pois nenhum animal sobrevive sozinho pelo tempo necessário para um osso dessa importância se regenerar.
Entre 2019 e 2022, entretanto, a solidariedade entre dessemelhantes (mesmo que eventuais) foi execrada, excluída das relações da presidência da República, e quem não rezasse ipsis litteris pela cartilha do falso messias era expurgado.
Só para citar um exemplo, durante a pandemia de Covid-19, governadores e prefeitos que ousassem buscar caminhos próprios para o enfrentamento ao Coronavírus eram combatidos sem pena ou trégua pelo presidente genocida.
Para além da pandemia, o método era o mesmo: a quem não pensasse exatamente igual e – principalmente – não fosse totalmente subserviente ao “comandante supremo”, era tratado como inimigo a ser abatido.
Vale a pena lembrar, repetir, sempre e com firmeza, a mudança radical operada no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2023, retornando à pauta do Planalto a solidariedade geral e a convivência entre contrários.
Nessa toada, destaque-se o apoio do governo federal ao governo do Rio Grande do Sul para enfrentamento dos efeitos da intempérie, um ciclone extratropical, que se abateu sobre a população gaúcha no Vale do Taquari.
Imediatamente, a presidência da República se fez presente através do vice Geraldo Alckmin que, autorizado pelo presidente Lula, anunciou a liberação de recursos que já ultrapassam a marca dos R$ 2 bilhões como ajuda federal.
Neste momento se faz necessário lembrar que este tipo de atitude é, felizmente, uma regra na história das relações institucionais – tradição benéfica e louvável quebrada apenas durante a gestão do miliciano energúmeno, entre 2019 e 2022.
Que nunca mais essa atitude política e humanitária seja relegada no Brasil.
*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador
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