Um fazer poético de que poucos são capazes

Menos do que apontar nomes, o poeta Barbosa ressalta que o legado de Cabral é "a ideia de que poesia não é emoção, não é sentimento, não vem de um frenesi".

"Mas que é algo muito elaboradora. O que é uma coisa óbvia, […] mas as pessoas tendem a desconsiderar isso e até hoje muita gente pensa que poesia é sentimento. João Cabral colocou a ideia da poesia como elaboração profunda, a busca de uma linguagem adequada. Muita gente ainda rejeita isso", salienta.

Para Rossetti, "é preciso ainda destacar a habilidade da poesia cabralina em se equilibrar com maestria entre a cultura popular e a erudita", um "feito que poucos poetas são capazes de realizar".

Oliveira conta que em seu livro a respeito da obra de Cabral buscou explicar essas características, mergulhando na "feição do poeta como autor que refutava o lirismo-amoroso, recusava a explicitação da subjetividade" e pleiteava "para si mesmo um lugar de recusa de um ideal poética, do qual, talvez a estética romântica fosse, segundo o próprio Cabral, a principal disseminadora".

Ele reconhece que livros, ensaios e entrevistas do próprio poeta "insistiam na afirmação, por vezes categórica por parte dele, de uma poesia cerebrina, racional e assentada sobre forte ideal construtivo", e isto acabou por "lhe render epítetos como 'poeta engenheiro', 'poeta arquiteto', 'geômetra', etc.".

"Sua influência persiste no século 21, dialogando com poetas contemporâneos e reafirmando sua relevância na literatura", resume Martins.

"Assim, Cabral consolida sua voz única, essencial para entender a poesia moderna e contemporânea. Assumindo o papel de historiador da literatura brasileira, afirmo que, no que diz respeito à autenticidade e originalidade, a literatura nacional pode ser compreendida em duas fases distintas: antes e depois de Cabral de Melo Neto."

Leia sobre o poeta João Cabral https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/10/joao-cabral-em-analise.html