Chico Buarque e a reforma educacional
Numa canção dos anos sessenta, Meu refrão, Chico Buarque de Holanda critica o distanciamento entre o ensino vigente e a realidade brasileira: “Já chorei sentido/De desilusão/Hoje estou crescido/Já não choro não/Já brinquei de bola/Já soltei balão/Mas tive que fugir da escola/Pra aprender essa lição”.
E havia muita polêmica sobre que reforma educacional haveria de ser feita para conciliar a escola com a vida.
Até que no final de 1968, início de 1969, sob a vigência do Ato Institucional n. 5, que aniquilou por completo as liberdades democráticas no país, e com o Decreto-Lei 577, baixado pela Junta Militar, que afastou do ambiente escolar alunos, professores e funcionários identificados como oponentes à Ditadura, vimos, à distância, a concretização da reforma universitária concebida no chamado acordo MEC-Usaid. Uma reforma – dizíamos então os estudantes rebeldes – que amoldaria o ensino, a pesquisa e a extensão aos interesses de fora, em desacordo com a nossa realidade e as necessidades da sociedade brasileira.
Cinco aos e meio depois, ultrapassados a clandestinidade, a prisão e as torturas, esse amigo de vocês retorna à Faculdade de Medicina da UFPE para concluir o curso médico. E tem o desprazer de presenciar, além de uma espécie de torpor intelectual (em sala de aula quase não se discutia nada, ao contrário dos anos 67-68 em que se discutia tudo), a fragmentação da grade curricular. Ao invés de se estudar Clínica Médica, por exemplo; tinha-se, como se tem até hoje, aulas por curto período de endocrinologia, nefrologia, reumatologia, cardiologia, gastroenterologia e outras disciplinas. Ou seja: entráramos na era da especialização precoce, do conhecimento superficial e desconectado do todo.
Foi a reforma universitária imposta pelo regime militar.
Agora, mais de três décadas passadas, o PCdoB inclui entre as reformas que considera indispensáveis e inadiáveis e pelas quais tenta mobilizar partidos aliados e amplos segmentos da sociedade, a reforma educacional.
Propõe uma reforma que proporcione a igualdade de acesso a todos ao ensino básico de qualidade e ao ensino superior; que permita o controle social do ensino privado e viabilize os investimentos necessários a incremento da pesquisa científica. Uma mudança sistêmica destinada a assegurar o direito de igualdade de oportunidade e de condições, reduzindo a imensa defasagem entre os poucos que hoje conseguem se instruir satisfatoriamente e os milhões que não têm acesso ao saber.
Que assim seja, para que escola seja o ambiente da busca democrática do conhecimento libertário, vinculado aos desafios de uma Nação que se prepara para alcançar seu verdadeiro destino e torne coisa do passado a crítica de Chico.
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