Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
A política é a expressão institucional da vida como ela é. Digo e repito um milhão de vezes – e a prática o confirma sempre. Sob todos os aspectos. E em todas as pelejas – sobretudo quando está em jogo a busca do voto.
No cotidiano, quando se perde a razão e falecem os argumentos e a serenidade, aparentemente fácil é desqualificar o interlocutor – mas quase sempre dá errado.
Na luta eleitoral, do meio para o fim de uma campanha em que a vantagem parece se consolidar em favor do adversário, das duas uma: ou se tenta rever conceitos, propostas e modos; ou se parte para a agressão, aberta ou sutil. A segunda alternativa, além de preferencial em nove entre dez perdedores, revela anemia programática e descontrole tático.
O pressuposto (falso) é de que “desconstruindo” o adversário será possível alcançar (ou recuperar) pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto e, assim, quem sabe vencer. Cá na província o único caso bem sucedido que eu me lembre deu-se no pleito municipal de 1985, no Recife, quando veio à tona o fato de que o então candidato pelo PMDB, deputado Sérgio Murilo Santa Cruz, era autor material de um crime de morte (no caso, fato real). Assim mesmo porque a campanha do peemedebista cometeu o erro clamoroso de rebater na TV o que circulava em panfletos. Em menos de vinte dias perdeu a eleição, que parecia ganha, para o principal concorrente Jarbas Vasconcelos, que disputava pelo PSB.
E há casos – a quase totalidade, segundo pude observar nas últimas três décadas de participação ativa na luta política – em que a agressão significou um tira certeiro no próprio coração, sequer permitindo que o agressor decolasse.
Em geral a prática desse tipo de expediente é absolutamente contraproducente. No máximo contenta parcela da militância desestimulada e lava a alma de próceres partidários raivosos. O eleitor não gosta de agressão e as coisas funcionam ao inverso: quem acusa o adversário de mentiroso o faz olhando-se ao espelho.
Mas o estratagema se repete. Parece doença inevitável de quem caminha para a degola. Ou recurso desesperado de quem já não encontra em que se agarrar numa situação de evidente declínio.
Com o tempo, a repetição exaustiva desse procedimento – com raríssimas exceções exitosas – termina por configurar uma lei objetiva de pelejas eleitorais: “quem bate não ganha, quem evita a arenga e concentra-se em proposta, vence”.
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