Luciano Siqueira
Publicado no Blog da revista Algomais e no Jornal da Besta Fubana
Bem
que precisamos dos poetas no dias que correm. E de nossa capacidade de
imitá-los, tentando descobrir a verdade além das aparências e da parcialidade
mau-humorada da grande mídia, hoje tão empenhada em difundir unilateralmente
fatos negativos e em botar gosto ruim nas coisas boas.
Cá
no Recife, dois poetas e militantes dos bons, Cida Pedrosa (do PCdoB) e Marcelo
Mário de Melo (do PT), oferecem ao público belas e consistentes contribuições
em favor da vida. Como em dois livros lançados em 2005, que releio agora em
meio às intensas atividades da campanha eleitoral.
Cida
reúne em Gume, seu quarto livro (tem participado
também de antologias), versos que, a um só tempo, afagam e cortam: “uma faca de
dois gumes”, como bem assinala o escritor Raimundo Carrero. Encara o sofrimento
(o seu e o de nossa gente): “a cidade era à prova de balas/a ponte era à prova
de sonhos/a dor visitava o capibaribe/entre putas e pombos construí poemas” (O
oriente da cidade); “a morte rompe a porta/congela nossos olhos/vitrifica a
vida” (Vigília); e reafirma um
audacioso modo de traduzir sua sempre renovada capacidade de amar: “meu
amor/desde já te informo:/durmo de pernas abertas/e a cada lua/te espero/para
plantar girassós” (Convite).
Marcelo,
com o seu Manifesto da Esquerda Vicejante, coletânea de poemas e
textos, num tom predominantemente satírico e bem-humorado, porém otimista,
critica equívocos e trejeitos de um tipo de militância emblematicamente imaturo
e sectário: “Em lugar da esquerda autoritária, arrogante e autofágica, a
esquerda auditiva, criativa e cativante./Em lugar do otimismo compulsório, a
esperança crítica.” E nos concita ao bom combate (no belo poema Bandeiras):
“As nossas bandeiras/devem estar sempre/içadas/inteiras/e
limpas./Bandeiras/sujas e rasgadas/somente/pela força dos ares/do suor/ou do
sangue/das campanhas.”
Que
assim seja – para que possamos lutar sempre com coragem e alegria.
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