29 setembro 2012

Ilusionismo de pernas curtas

Jogo de cena e verdade fatual
Luciano Siqueira

 
Nem tudo o que reluz é ouro, ensina a sabedoria popular. Isto para separar a aparência da essência, quando se trata de identificar com clareza o conteúdo essencial de uma ideia de sua roupagem, quando esta é enganosa.

Na política, sobretudo em pelejas eleitorais, isso é posto em relevo sempre. O embate não se dá apenas em torno de ideias e projetos racionalmente apresentados, há uma margem imensa de manobra para o jogo de cena visando a confundir, iludir ou despertar a sensibilidade mais epidérmica do eleitor. E, desse modo, esconder o que não se quer que venha à tona.

Nessa linha de conduta, uma estratégia recorrente tem sido a acusação vazia ou a distorção do que pensa, fez ou faz, ou pretende fazer o adversário. É o que os técnicos chamam de “desconstrução” da imagem. Nem sempre dá certo, quando o que se deseja “revelar” é falso. Tem um efeito bumerangue, respinga no acusador.

Outra estratégia é a de se apresentar como personagem etéreo, quase como se dispensado de sua história pregressa e posto como surgido do nada, inteiramente diferente de tudo o que se viu até então. Ainda que esse tipo de “fenômeno” seja impossível na vida real, artifícios de marketing cuidam de dar aparência verossímil à impostura.

Na cena política ninguém surge por acaso, mormente quando se trata de pretendentes a cargos executivos. Primeiro, precisa ter um partido ao qual o dito cujo deve estar filiado e com o qual compartilha virtudes e defeitos; e, portanto, ocupa determinada posição no espectro partidário. Para o bem ou para o mal.

Além disso, via de regra os que assim se apresentam têm, sim, trajetória partidária, pública e pessoal – defensável ou não. Não há como ocultar. O correto, ético até, seria assumir-se como de verdade é, ao invés de construir personagem fictício e como tal tentar amealhar a simpatia dos incautos e desinformados.

Mas o estratagema tem vida curta. De uma forma ou de outra a verdade vem à tona, com todas as consequências negativas para o personagem. Demais, a sociedade brasileira já viveu várias experiências desse tipo, inclusive cá na província. Em certa medida está vacinada. Basta um toque de esclarecimento, a imunidade conquistada se reflete em tomada de consciência, as coisas se tornam distinguíveis e o que verdadeiramente tem correspondência na realidade se afirma; o que se constitui em farsa, deteriora.

Na presente batalha eleitoral, aqui e pelo Brasil afora, há muitas casos que se enquadram nessa situação de discrepância entre o jogo de cena e a verdade objetiva. Só não enxerga quem não quer – ou ainda não deteve em observação mais atenta.

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