Luciano Siqueira
Nem tudo o que reluz é ouro, ensina a sabedoria popular.
Isto para separar a aparência da essência, quando se trata de identificar com
clareza o conteúdo essencial de uma ideia de sua roupagem, quando esta é
enganosa.
Na política, sobretudo em pelejas eleitorais, isso é posto
em relevo sempre. O embate não se dá apenas em torno de ideias e projetos
racionalmente apresentados, há uma margem imensa de manobra para o jogo de cena
visando a confundir, iludir ou despertar a sensibilidade mais epidérmica do
eleitor. E, desse modo, esconder o que não se quer que venha à tona.
Nessa linha de conduta, uma estratégia recorrente tem sido a
acusação vazia ou a distorção do que pensa, fez ou faz, ou pretende fazer o adversário.
É o que os técnicos chamam de “desconstrução” da imagem. Nem sempre dá certo,
quando o que se deseja “revelar” é falso. Tem um efeito bumerangue, respinga no
acusador.
Outra estratégia é a de se apresentar como personagem
etéreo, quase como se dispensado de sua história pregressa e posto como surgido
do nada, inteiramente diferente de tudo o que se viu até então. Ainda que esse
tipo de “fenômeno” seja impossível na vida real, artifícios de marketing cuidam
de dar aparência verossímil à impostura.
Na cena política ninguém surge por acaso, mormente quando se
trata de pretendentes a cargos executivos. Primeiro, precisa ter um partido ao
qual o dito cujo deve estar filiado e com o qual compartilha virtudes e
defeitos; e, portanto, ocupa determinada posição no espectro partidário. Para o
bem ou para o mal.
Além disso, via de regra os que assim se apresentam têm,
sim, trajetória partidária, pública e pessoal – defensável ou não. Não há como
ocultar. O correto, ético até, seria assumir-se como de verdade é, ao invés de
construir personagem fictício e como tal tentar amealhar a simpatia dos
incautos e desinformados.
Mas o estratagema tem vida curta. De uma forma ou de outra a
verdade vem à tona, com todas as consequências negativas para o personagem. Demais,
a sociedade brasileira já viveu várias experiências desse tipo, inclusive cá na
província. Em certa medida está vacinada. Basta um toque de esclarecimento, a
imunidade conquistada se reflete em tomada de consciência, as coisas se tornam
distinguíveis e o que verdadeiramente tem correspondência na realidade se
afirma; o que se constitui em farsa, deteriora.
Na presente batalha eleitoral, aqui e pelo Brasil afora, há
muitas casos que se enquadram nessa situação de discrepância entre o jogo de
cena e a verdade objetiva. Só não enxerga quem não quer – ou ainda não deteve
em observação mais atenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário