21 junho 2020

Com todos os méritos


Tricampeã mundial, seleção brasileira de 1970 foi time quase perfeito

Além das qualidades, havia um enorme desejo de superação nos jogadores

Tostão, na Folha de São Paulo

Dia 21 de junho, 50 anos atrás, o Brasil venceu a Itália por 4 a 1 e conquistou a Copa de 1970. Foi um grande time, mas não era perfeito. A perfeição só existe em nossa imaginação.
O jogo não teve surpresas. Pelo contrário, como se esperava, a Itália fez marcação individual, deixou um zagueiro na cobertura de outros quatro defensores e se cansou no segundo tempo, como é frequente em times que usam essa estratégia.
No intervalo, quando o placar estava 1 a 1, todos tinham a mesma opinião, a de que, no segundo tempo, apareceriam os espaços, como aconteceu, para vencermos o jogo.
Imediatamente após o término da decisão, os torcedores mexicanos invadiram o gramado. Tiraram minha camisa, meu calção, minhas meias e minhas chuteiras. Fiquei apenas de sunga. Se não fosse a polícia mexicana, eu teria ficado nu, e a imagem seria repetida até hoje, para sempre. Estaria perdido.
Além das qualidades técnicas, táticas e físicas, havia um enorme desejo de superação por parte de alguns jogadores.
Pelé, que, nos anos anteriores, era também criticado por não manter a mesma regularidade, se preparou muito para o Mundial, para que ninguém tivesse mais dúvidas de que era o melhor de todos os tempos.
Rivellino, que nunca tinha sido campeão pelo Corinthians, queria ganhar o título. Jairzinho queria mostrar também que era um craque, e não apenas um atacante com muita força física e velocidade.
Eu tive de vencer várias dificuldades. Por causa da cirurgia no olhocorri riscos de não ir ao Mundial e, depois, de não ser titular, já que Zagallo, quando entrou no lugar de Saldanha, falou que eu seria o reserva de Pelé, por atuarmos na mesma posição.
Nos últimos 50 anos, houve, em todo o mundo, progressivamente, com evoluções e retrocessos, um grande desenvolvimento científico e tecnológico, em todas as atividades, incluindo o futebol, dentro e fora de campo.
Os europeus, por causa do maior crescimento da economia e das melhorias dos problemas sociais, deram um salto à frente dos sul-americanos. Melhoraram o planejamento dos campeonatos, a qualidade dos gramados e o conforto dos estádios. Diminuíram a violência, dentro e fora de campo, e tentaram jogar um futebol mais agradável e ofensivo. Investiram e tiveram retorno. Para isso, foi fundamental a contratação dos melhores jogadores dos outros países.
Durante um longo período, houve também retrocessos, uma queda de qualidade do jogo, em todo o mundo, por causa de disputas polarizadas entre o futebol coletivo, tático e de resultados e o mais ofensivo, prazeroso, hábil e de criatividade, como se o futebol eficiente não combinasse com a beleza do espetáculo.
Recentemente, principalmente nos últimos 15 anos, houve uma conciliação, influenciada pelo Barcelona de Guardiola e por outros grandes times, e o futebol passou a ser, ao mesmo tempo, ofensivo, criativo e eficiente. A prosa se uniu à poesia.
O futebol está mais emocionante e bem jogado, com estratégias modernas. Na última semana, os goleiros Ter Stegen, do Barcelona, e o brasileiro Ederson, do Manchester City, deram um show de belos e ótimos passes, curtos, médios e longos.
Hoje, as grandes equipes unem a técnica, o domínio da bola e o passe, símbolos do jogo coletivo, com a habilidade, a fantasia e o drible, símbolos do jogo individual. Não é uma coisa nem outra. A radicalização empobrece o futebol e a vida.
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