18 junho 2020

Um dado a considerar


Cai apoio a militares em redes sociais, mostra pesquisa
Transcrevo do Valor Econômico de hoje. Um dado de realidade a examinar.

Instituição que precisou reconquistar a confiança da sociedade depois do golpe de 1964 e do longo período em que impôs uma ditadura militar ao país, as Forças Armadas estão perdendo apoio nas redes sociais na medida em que se associam à radicalização do governo Bolsonaro. É o que indica uma pesquisa feita pela consultoria Quaest, a pedido do Valor, sobre a imagem do militarismo na plataforma mais voltada para a ação política, o Twitter.
De acordo com o levantamento, os meses de abril e maio foram os primeiros, desde o início do mandato de Bolsonaro, em que as referências a militares foram mais negativas do que positivas na rede social. Em março, houve um equilíbrio, com metade para cada lado. Em abril, 54% das postagens foram negativas, enquanto 46% se mostraram favoráveis às Forças Armadas. Em maio, reforçando a queda, o percentual de publicações críticas subiu para 55% e as positivas desceram mais, para 45%, gerando um índice de -0,18, o mais baixo da série.
A impopularidade contrasta com o clima predominante no ano passado, quando o volume de menções favoráveis, em dezembro, chegou a ser mais do que o dobro (69% a 31%) do que o de interações negativas.
O resultado atual, aponta o cientista político Felipe Nunes, da Quaest, coincide com a escalada do autoritarismo no discurso de generais que são ministros no governo Bolsonaro, como Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), com ameaças de golpe expressas em notas e cartas abertas, assim como as frequentes manifestações de rua em que bolsonaristas pedem intervenção militar, por meio do fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional.
“Em 2020, começa esse processo de queda da imagem, que está relacionado à exposição negativa dos militares, sobretudo quando ameaçam as instituições democráticas”, afirma Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para o levantamento, o cientista político colheu por volta de 600 mil tuítes por mês, desde janeiro de 2019, de forma aleatória, que mencionavam alguma das duas dezenas de palavras relacionadas ao mundo da caserna e suas variantes, como militar(es), militarização, general(is), e ministros do governo, como Augusto Heleno e Walter Braga Netto (Casa Civil). Para cada amostra mensal, Nunes aplicou um algoritmo de sentimento de texto que classificou o número de menções em positivas e negativas. O algoritmo foi obtido a partir de 100 mil classificações manuais, feitas inicialmente por um grupo de 15 universitários, que treinaram o modelo, levando ao “aprendizado de máquina”.
A razão entre o número de postagens críticas e favoráveis gerou um índice em que zero significa uma proporção igual para cada lado. Nunes afirma que entre os tuítes mais representantivos do ápice do apoio aos militares está um publicado por Augusto Heleno, em 9 de novembro, em que o ministro critica a fala do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao sair da prisão em Curitiba. “Lula, em seu discurso, mostra quem é e o que deseja para o país. Incita a violência (cita povo do Chile como exemplo), agride várias instituições, ofende o Pres Rep e mostra seu total desconhecimento sobre carreira militar.”
Por outro lado, duas publicações recentes do mesmo general da reserva são simbólicas do rechaço à radicalização dos bolsonaristas, aponta Nunes. Na primeira, em 13 de maio, Heleno chama de “ato impatriótico, quase um atentado à segurança nacional” a divulgação de modo integral do vídeo da reunião ministerial citado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro como prova da tentativa de Bolsonaro de interferir na Polícia Federal. O segundo tuíte, que também gerou muitas reações negativas, é a “nota à nação brasileira”, de 22 de maio, na qual o ministro faz ameaças e sugere “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” caso Bolsonaro fosse obrigado a entregar seu celular à Justiça. “Parece que o sucesso dos militares é associado à perseguição ao Lula e ao PT. 
Mas o insucesso é uma mistura de ameaça de intervenção e a reação ao vídeo da reunião ministerial”, afirma Nunes, que faz o monitoramento mensal da imagem de políticos e figuras públicas nas redes sociais por meio do Indice de Popularidade Digital (IPD).
Governo Bolsonaro tem crescentes fragilidades https://bit.ly/2MwcqOP

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