Estudo
aponta alta proteção da Coronavac contra casos graves de Covid provocados pela
delta
Análise com quase 11 mil pessoas
na China aponta que vacina é eficaz em prevenir pneumonia
Ana Botallo, Folha de S. Paulo
As vacinas de vírus
inativado, incluindo a Coronavac, apresentaram proteção entre 69,5%
até 77,7% contra pneumonia causada pela Covid-19 frente a uma infecção com a
delta. A proteção para casos graves de Covid-19 causadas pela
delta foi mais alta.
Os resultados
são de estudo conduzido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC
chinês) e pela Escola de Saúde Pública da província de Guandong, na China.
O artigo foi
enviado para publicação na revista científica The Lancet, a mais renomada da
área médica, e divulgado na página oficial de pré-prints (artigos
ainda sem a revisão por pares) da revista.
A Coronavac é
desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida, no Brasil, em
parceria com o Instituto Butantan. Além dela, foram analisadas também as
vacinas da estatal chinesa
Sinopharm e a da empresa Biokangtai, embora esta última não
tenha apresentado resultados devido à baixa quantidade de injeções aplicadas no
país.
Para avaliar
a efetividade
(eficácia na vida real) das vacinas inativadas contra Covid-19 frente à delta, os
pesquisadores colheram dados de 10.813 casos confirmados de Covid ou de
contatos próximos, como pessoas que moravam na mesma casa que um infectado ou
que conviviam em um mesmo espaço público que aquela pessoa (colegas de trabalho
ou de escola, por exemplo), até quatro dias antes do desenvolvimento dos
sintomas dos infectados.
No período do
estudo, a variante delta
(também conhecida como B.1.617.2) chegou à província e esteve
associada a um surto, com a confirmação de pelo menos 167 casos, de 21 de maio
a 18 de junho. Os dados foram coletados até o dia 23 de junho, quando foi
finalizado o monitoramento daqueles que tiveram contato com casos confirmados.
Devido ao
intenso monitoramento de casos suspeitos e rastreamento de contatos
desenvolvido pelo governo chinês desde o início da pandemia, todos os casos
suspeitos eram rastreados, testados com exame RT-PCR para o coronavírus,
colocados em quarentena obrigatória, testados diariamente e acompanhados por um
intervalo de até 14 dias. Os casos positivos eram sequenciados para detectar
qual a forma do vírus presente no organismo.
Não foram
incluídos menores de 18 anos porque apenas aqueles maiores de idade podiam
receber a vacina contra Covid-19 na época do estudo.
Dos 10.813
indivíduos incluídos na pesquisa, pouco mais da metade (54,4%) eram não vacinados,
3.130 (28,95%) receberam pelo menos uma dose da vacina e 1.795 (14,6%)
receberam as duas doses. A maioria dos participantes recebeu pelo menos uma
dose ou as duas injeções da Coronavac (51,3% e 58,3%, respectivamente).
Foram
registrados 102 casos de pneumonia
decorrentes de Covid-19,
dos quais 85 foram em pessoas não vacinadas, 12 em indivíduos com pelo menos
uma dose das vacinas e apenas 5 casos em pessoas com esquema vacinal completo.
A efetividade da vacina (com duas doses) foi de 77,7%, caindo ligeiramente para
69,5% quando ajustada para outros fatores como profissão, sexo, idade ou local
de residência (o surto foi mais intenso em duas ruas da região urbana de
Guangdong).
Porém, nas
pessoas que tinham recebido apenas uma dose do imunizante, a análise não foi
estatisticamente significativa, ou seja, a primeira dose não foi suficiente
para impedir casos de pneumonia nesses pacientes.
Já em relação
ao quadro grave de Covid-19, houve o registro de 19 casos, todos no grupo dos
não vacinados, o que aponta para uma efetividade das vacinas de 100%. Contudo,
como o número de
casos é relativamente baixo, e é preciso aguardar mais estudos para
confirmar esse valor.
A pesquisa,
apesar de contar com um número pequeno de casos confirmados, é a primeira evidência
da eficácia das vacinas de vírus inativado, como a Coronavac, contra casos
graves e pneumonia causados pela variante delta, como já foi demonstrado em estudos para
outras cepas do vírus.
Assim como
observado em outras vacinas, a efetividade
das vacinas inativadas tende a diminuir um pouco em relação à
observada nos ensaios iniciais, quando a forma ancestral do vírus originado na
China era dominante, mas ainda assim
garante boa proteção. A falta de eficácia com uma dose, no entanto,
reforça a necessidade de duas doses para impedir o agravamento do quadro e
hospitalização por Covid.
Um estudo
feito por pesquisadores do Reino Unido e divulgado em junho apontou que as
vacinas Pfizer e AstraZeneca mantêm a
eficácia contra casos de Covid-19 provocados pela delta, embora em
uma taxa menor do que a encontrada para outras formas do vírus, incluindo a
alfa (de 92% para 79%, no caso da Pfizer, e de 73% para 60%, da AstraZeneca).
Já a proteção
para hospitalização, calculada a partir de outro estudo conduzido pelo órgão de Saúde
Pública da Inglaterra (PHE, na sigla em inglês), foi de 94% e 96%
com a vacina da Pfizer, e 71% e 92% com a da AstraZeneca, para uma ou duas
doses, respectivamente.
Por fim, um
estudo sobre a vacina da Janssen, aplicada em dose única, mostrou que o
imunizante mantém a eficácia contra a delta. Os dados estão disponíveis no
formato pré-print.
.
Veja: Uma tremenda demonstração de fraqueza https://bit.ly/3lRLcVT
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