28 agosto 2021

Ministro de quê?

Ministro da ignorância
José Luís Simões*

O artigo 8º da Lei Federal 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência) estabelece: “É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal...” 

Com texto claro, legislação avançada e que serve de referência para outros países, a Lei Brasileira de Inclusão é ignorada ou desrespeitada pelos agentes públicos que deveriam cumpri-la. As recentes declarações do ministro da Educação, Milton Ribeiro, revelam que ele ignora ou desconhece a Lei Brasileira de Inclusão. Se o ministro ignora porque tem preconceito e discrimina crianças com deficiência, logo, comete crime. Agora, se ele desconhece a Lei em tela, está mal assessorado e despreparado para ocupar o importante cargo da República. 

Mas não espantaria se o ministro, além de ignorar, desconhecer a Lei de Inclusão. Ignorância e despreparo dialogam perfeitamente com o governo Bolsonaro. Em resumo, o mandatário da pasta da Educação combina com o governo que serve, com prejuízo das necessidades urgentes que o país precisa resolver para avançar no campo educacional.

A Lei Brasileira de Inclusão garante que a pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário em todas as instituições e serviços públicos, o que inclui o atendimento nas escolas (Lei 13.146, Artigo 9º). Ou seja, as escolas é que precisam se preparar para atender esse público, receber novos investimentos para acolher essas crianças com dignidade e respeito; e ainda, garantir recursos na formação de professores e agentes públicos para o efetivo cumprimento da Lei de Inclusão. 

O fato de existir a Lei Brasileira de Inclusão já é um avanço, claro. Entretanto, há um fosso enorme entre a existência da Lei e seu devido cumprimento pelos agentes públicos, a começar pelas autoridades da República, que prevaricam, ignoram e colocam o país no rumo do atraso em termos de ações políticas para promover a inclusão de pessoas com deficiência. A Lei não pode ser letra morta. O avanço na legislação deve ser acompanhado não apenas de discursos, mas, sobretudo, de ações governamentais que garantam cidadania e incluam as pessoas com deficiência em todos os espaços e ambientes sociais, especialmente nos espaços públicos. 

A escola é por excelência o lugar da inclusão, da compreensão, da diversidade, do respeito ao outro, da valorização da cultura e do conhecimento. No ambiente escolar não pode haver preconceitos, discriminação ou manobras para excluir determinados grupos sociais. Quem ocupa importantes cargos na República precisa trabalhar a favor da Educação, do futuro do país. A estratégia de governar pelo conflito, incitando a divisão da sociedade e vomitando absurdos à revelia da legislação atual só leva para o caminho do retrocesso e atraso no desenvolvimento de políticas educacionais. 

As barreiras arquitetônicas, atitudinais, comunicacionais e nos transportes precisam ser rompidas. Da mesma forma, as barreiras tecnológicas (o não acesso à internet e computador) precisam ser superadas; ora, os estudantes tinham o direito de acompanhar as aulas remotas durante a pandemia, mas milhões não conseguiram. O direito à Educação foi negado para milhões de estudantes brasileiros porque os últimos três ministros da Educação foram negligentes, não cumpriram tarefas assaz urgentes. 

O ENEM 2021 é o menor da história, todavia, isso é a ponta do iceberg, é apenas mais um indicador de que a Educação não é prioridade e a inclusão de pessoas com deficiência é pauta adversa para o governo. 

O alento é que ainda existe o Ministério da Educação. Por enquanto, o desmascarado não o extinguiu – o que fez com a Cultura e o Esporte. Mas, lamentavelmente, o Ministério da Educação continua sob a tutela da ignorância e insensatez. [Ilustração: Beto]

*Zé Luís Simões, professor do Centro de Educação-UFPE

 Veja: Num arco-íris os matizes estão juntos, porém bem diferenciados https://bit.ly/2HaMuav

Nenhum comentário: