09 agosto 2021

Crônica da segunda-feira

Quem inventou o caldinho de feijão?

Jéssica Barbosa*
 
Sábado, finalzinho de tarde, clima fresco e chuvoso. Depois de um dia preguiçoso regado a café e guloseimas (sempre fico com mais vontade de comer doces no frio) resolvi começar a ler o livro “Dicionário Amoroso do Recife”, escrito por Uraniano Mota, e que ganhei de presente do meu amigo, poeta, cronista e inteligentíssimo, Luciano Siqueira. 
 
Inclusive, esse a quem enchi de elogios, merecidamente, e sem medo de pecar no superlativismo, ultimamente tem me presenteado com leituras maravilhosas. Então, abri o livro e decidi iniciar de um jeito diferente: “Vou começar a explorar esse dicionário pela primeira letra do meu nome, a letra J. 
 
Fui lá e dei de cara com João do Caldíssimo, e logo nas duas primeiras linhas, percebi que estava prestes a conhecer a história do inventor do caldinho de feijão, como “tira-gosto”, para a classe média do Recife. Mas, apesar do produto de alta qualidade, como os próprios fregueses e a mídia intitulavam, era Seu João a maior atração disso tudo. 
 
Continuei folheando e me encantei com o carisma e a habilidade que ele tinha para conversar sobre qualquer assunto com os clientes. A espontaneidade de Seu João me fez lembrar de Seu Luizinho, senhorzinho franzino, de cabelos grisalhos, que há anos vende amendoim aqui no bairro e conquistou a clientela com seu jeito atencioso. 
 
Ao terminar de ler as três páginas dedicadas a essa figura ilustre fiquei aqui “matutando” e cheguei à conclusão que: durante a nossa caminhada esbarramos com pessoas que mudam nossa vida através daquilo que fazem. Imagina quantas pessoas seu João não alegrou com suas piadas e histórias folclóricas? 
 
Será que se ele não trabalhasse por prazer e com o propósito de tornar leve o relacionamento com os clientes, o caldinho faria tanto sucesso? Não é apenas sobre vender ou criar um produto. É sobre ir além naquilo que está se propondo a fazer. É sobre enxergar além do óbvio. 
 
Já dizia o Pequeno Príncipe: “Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada. Essa é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova de que duas almas não se encontram ao acaso.”
 
*Jornalista, cronistaTema político: Na relação de Bolsonaro com as Forças Armadas, separar o joio e o trigo é necessário https://bit.ly/3xOWa13

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