18 agosto 2021

Relacionamento abusivo

A violência que fere a alma

Cida Pedrosa*

 

O surgimento da Lei Maria da Penha, há exatos 15 anos, foi um marco na desnaturalização da violência contra a mulher no âmbito doméstico. Até então, o homem agressor geralmente recebia como pena pela sua brutalidade a obrigação de pagar algumas cestas básicas. Tentava-se compensar toda dor e humilhação sofrida pela mulher com um punhado de alimentos baratos. Nem quando a violência descambava para o homicídio o criminoso recebia punição exemplar. Quantos, a exemplo de Doca Street, não se livraram da prisão alegando legítima defesa da honra? Mesmo depois de mortas, as mulheres continuavam sendo aviltadas.

Mas a Lei Maria da Penha descortinou um novo horizonte: acabou com as multas e cestas básicas, não permitiu mais que a própria mulher entregasse a intimação judicial ao agressor – um absurdo que colocava sua vida em risco – e criou os Juizados de Violência Doméstica, reduzindo a impunidade. Agora, aos 15 anos, atualiza-se com uma grande conquista: a tipificação da violência psicológica como crime e sua inclusão no Código Penal.

Esse tipo de violência caracteriza relacionamentos abusivos, em que a vítima nem sempre percebe que está sendo agredida. Esses relacionamentos são fruto de uma cultura machista, que reduz a mulher a um objeto do qual o homem pode dispor como bem quiser. Nessas relações, há uma idealização do ciúme como sinal de amor, quando deveria ser percebido como um sentimento de posse que pode gerar constrangimentos e ameaçar a integridade física da mulher.

É importante ressaltar que, nem sempre, a violência psicológica se manifesta de forma explícita. Além de cenas de ciúmes (que parecem inofensivas), pode haver manipulação, ataques à autoestima da mulher com críticas e comentários pejorativos, inclusive em público; tentativa de afastá-la de sua família e amigos, e abuso patrimonial, controle financeiro... Essas agressões sucessivas vão construindo um quadro de ansiedade que pode descambar para a depressão e até ao suicídio da mulher.

Consciente da urgência de visibilizar esse problema, nosso mandato aprovou projeto de lei que prevê a criação da Semana de Conscientização e Combate ao Relacionamento Abusivo, para promover a reflexão e o debate sobre os impactos desses relacionamentos nos envolvidos, em suas famílias e na sociedade, atividade que ficará a cargo do poder público. Entendemos que, com leis vigorosas, mais informação e acolhimento poderemos enfrentar e vencer essa epidemia chamada violência contra a mulher no Brasil.

*Cida Pedrosa é poeta e vereadora do Recife

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Veja quanto mais enfraquecido e isolado, mais agressivo https://bit.ly/3lRLcVT

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