Trinta
sequelas e sintomas persistentes da Covid-19
Um dos estudos sobre o tema, publicado
na eClinicalMedicine, revela que já foram identificados 203
sintomas associados à Covid de longa duração
Bárbara
Cruz, CNN
A infecção pela Covid-19 até pode ser assintomática, mas isso não a
impede de deixar marcas. De acordo com as informações mais recentes, são
aqueles pacientes que tiveram a doença em níveis mais graves que possuem maior
probabilidade de ficar com prevalência de sintomas e sequelas após serem
contagiados com o SARS-CoV-2.
Pessoas
com casos mais leves da doença têm relatado dificuldades nas semanas ou meses
seguintes à infecção.
“Ainda não tivemos tempo suficiente para perceber como vai
ser esta evolução”, diz à CNN Portugal
Andreia Leite, professora na Escola Nacional de Saúde Pública, que trabalha em
um estudo que irá avaliar a persistência da ‘covid longa’ em Portugal.
“Tem ocorrido grande dificuldade em definir a covid
longa”, admite, bem como as sequelas que ficam em uma “condição pós-covid”.
“A condição pós-covid é um diagnóstico de exclusão”,
assinala ainda a investigadora. “Se alguém teve covid e começa com determinado
sintoma é preciso perceber se é, de fato, esta a justificação, até porque
existe um conjunto de outras causas para estes vários sintomas, o que torna a
abordagem mais difícil”, resume.
A
própria nomenclatura de “covid longa” não levanta consensos: um estudo
publicado na The Lancet Respiratory Medicine, já no início deste mês, refere
que, dado o especto de sintomas que podem ocorrer e persistir após a
infecção da Covid-19, e também podem afetar diferentes órgãos e sistemas do
organismo, “é essencial concordar na nomenclatura e definição” para avaliar a
sua incidência, subtipos e gravidade.
“Este processo não pode ser deixado para as agências,
prestadores de cuidados de saúde ou investigadores, mas requer vasta discussão,
incluindo, nomeadamente, as pessoas afetadas.”
Sequelas
e sintomas
Segundo uma revisão de estudos sobre a ‘long
covid’, que estima que as sequelas da doença a longo prazo terão um
impacto substancial na saúde pública, existem mais de 50 sintomas distintos
relatados pós-infecção por covid-19, sendo os mais prevalentes a fadiga e
dificuldades respiratórias, seguidas por perturbações do olfacto e paladar,
cefaleias, dor no peito, névoa mental e perda de memória, bem como perturbações
do sono.
Confira uma lista de 30 dos sintomas relatados e, se for o
seu caso, marque uma consulta.
·
Fadiga
·
Dor de cabeça
·
Dificuldades
respiratórias
·
Dor de garganta
·
Lesões pulmonares
·
Dor no peito
·
Tosse persistente
·
Dor muscular e
articular
·
Ansiedade
·
Depressão
·
Insônias
·
Dificuldade de
concentração
·
Névoa mental
·
Perda de memória
·
Perda de olfacto
·
Perda de paladar
·
Irritações cutâneas
·
Perda de apetite
·
Vômitos
·
Dor abdominal
·
Refluxo gastroesofágico
·
Diarreia
·
Incontinência
urinária e fecal
·
Alterações no ciclo
menstrual
·
Queda de cabelo
·
Arrepios
·
Suor abundante
·
Arritmias e
palpitações cardíacas
·
Inflamação do
miocárdio
·
Edema dos membros
A
“condição pós-covid”
Bernardo Gomes, médico de Saúde Pública, lembra a
definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera “condição
pós-covid” os sintomas que surgem três meses após infecção, que duram pelo
menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo.
Para o especialista, é importante, em termos de sequelas,
dissociar aquelas que são efetivamente decorrentes da Covid-19 e outras que
possam surgir de circunstâncias de doença mental ou até decorrentes de
alterações de estilos de vida determinados pelas medidas pandêmicas.
Segundo os estudos mais recentes, sintomas pós-covid são
mais comuns em adultos do que em crianças e mais habituais em doentes não
vacinados do que em pessoas que tomaram a vacina.
“E há outra circunstância: pessoas que podem não ter nada
na fase pós-aguda e aparecem com quadros, passado algum tempo, que se encaixam
na possibilidade de long covid”, acrescenta Bernardo Gomes.
Entre as sequelas mais comuns da Covid-19, o médico aponta
fadiga, dificuldade respiratória e disfunção cognitiva. “No entanto, temos
outros quadros de afecção do sistema nervoso.
Na prática, as suas consequências traduzem-se em
alterações inesperadas do ritmo cardíaco, arritmias, disfunções do sistema
digestivo que persistem”. O médico lembra ainda que há doenças cujo número de
casos parece ter aumentado no pós-covid, nomeadamente a diabetes, fenômeno que
se considera agora estar ligado a uma resposta autoimune exacerbada ao
SARS-CoV-2, mas que ainda terá de ser devidamente aprofundado.
“Não jogamos contra um único inimigo, jogamos contra o
vírus e as suas questões agudas mas também contra uma reação imunitária
exagerada que chegou a causar mortes. E ainda um terceiro inimigo, que deriva
do segundo, percebemos que existem reações desreguladas ao vírus que podem ter
um eco futuro e não se percebem num primeiro momento”, frisa o especialista de
Saúde Pública.
“Infelizmente, vamos tendo cada vez mais casos destes, a
expectativa é de que venha muita gente a ser afetada, ainda vai ter um impacto
social importante”.
O mesmo diz a investigadora Andreia Leite: “É esperado que
haja algum impacto do ponto de vista social e econômico, para além do impacto
nos serviços de saúde”, refere, acrescentando que ainda não existe uma “imagem
clara” da frequência da Covid-19 a longo prazo e suas sequelas, mas que serão
certamente precisos muitos recursos para a “marcha diagnóstica” necessária
nestes casos, que incluem a realização de exames complementares ou
referenciação dos doentes para diferentes especialidades.
A professora da Escola Nacional de Saúde Pública lembra
ainda que estas sequelas e sintomas do pós-covid são geralmente mais frequentes
em doentes hospitalizados ou que tiveram doença grave e, em alguns casos,
resolvem-se espontaneamente, mas em outros acabam por persistir “por um período
longo e com impacto no dia a dia, na qualidade de vida, na diminuição das horas
de trabalho ou obrigando a ter funções revistas”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, entre 10% a 20%
das pessoas que tiveram Covid-19 sofrem de sintomas após recuperarem da fase
aguda da infecção, uma condição “imprevisível e debilitante” que afeta também a
saúde mental.
E um estudo publicado na eClinicalMedicine revela
mesmo que já foram identificados 203 sintomas associados à covid de
longa duração e que envolvem 10 órgãos diferentes do corpo humano. O estudo foi
realizado com dados de 56 países e envolveu mais de três mil pessoas, tendo
concluído que 56 dos 203 sintomas identificados persistiram por sete
meses.
.
O sentido dos fatos em poucas palavras https://bit.ly/3n47CDe
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