“Com juros altos, governo
trata doença do coração com remédio pra bicho de pé”
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo critica a macroeconomia do país,
“montada sobre pressupostos equivocados”, que não resolve drama da inflação em
vez disso, causa danos ao conjunto da sociedade.
Cezar Xavier, Vermelho www.vermelho.org.br
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo falou ao portal Vermelho de seu entusiasmo com o lançamento da pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, à Presidência da República. Ele considerou este um “momento crucial de mudança”.
Belluzzo lamentou que a economia brasileira esteja numa situação muito difícil, “sobretudo para as vidas das pessoas das camadas menos favorecidas”. “A candidatura do Lula aponta para uma mudança de rumo importante. Estou muito esperançoso, mesmo sabendo que será uma mudança trabalhosa, difícil… mas, trabalhosa, sempre é a vida. Tem que ter força disposição e persistência”, recomendou.
O economista, que foi um dos convidados especiais do evento “Vamos Juntos Pelo Brasil”, no Expo Center Norte, também comentou a política macroeconômica que tem afundado o Brasil em recessão, inflação e desemprego.
Novo governo
Indagado sobre qual deveria ser um primeiro gesto de política econômica para superar a situação inflacionária atual, num novo governo, Belluzzo foi objetivo. Enquanto a maioria das pessoas falava em ataque ao desemprego, sem mencionar políticas específicas, ele apontou uma medida direta e efetiva, que foi desmontada no primeiro dia do atual governo.
“A primeira coisa que tem que fazer é encontrar um fundo de estabilização para que os preços internacionais não passem para adiante. Esse negócio do PPI (Paridade de Preço Internacional) pode ser feito. A Noruega faz isso, o Chile faz com o cobre usando os recursos para impedir a transmissão. Eu não entendo porque aqui não fizeram isso ainda, se o governo do PT fez uma poupança”, disse.
Belluzzo refere-se ao modo como os preços de combustíveis são alavancados pela cotação do dólar e influências externas, quando o Brasil tem condições de estabilizar esses preços a partir da produção da Petrobras, que é uma empresa nacional com participação majoritária do governo.
Choque de juros
Em sua opinião, a política de aumento dos juros, implementada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), como forma de combater a inflação, “dá para as pessoas exatamente a noção de como a organização da política econômica esta montada sobre pressupostos equivocados”.
Belluzzo vai contra a avaliação de que a inflação é causada por choque de demanda, ou seja, muito consumo que precisa ser reprimido. “O que tem é um choque de preços determinado pela guerra da Ucrânia, pela escassez de alguns componentes, entre outros fatores, ou seja, é um choque de oferta”, avaliou.
Se há dificuldade produtiva da indústria, de acordo com Belluzzo, não se deve lidar com isso subindo a taxa de juros, que pode dificultar ainda mais o acesso ao crédito, favorecendo a poupança e desestimulando o investimento. “É como tratar doença do coração com remédio pra bicho de pé. O remédio é outro!”, comparou.
Mas o economista também observa que, hoje em dia, começa a aparecer “alguma imaginação e pensamento que estão desconstruindo isso”. Cada vez mais se entende esses pressupostos neoliberais do tripé macroeconômico (câmbio, política de inflação e meta fiscal) como uma receita rígida com risco de causar danos ao conjunto da sociedade.
Federal Reserve
Belluzzo também apontou os danos que a política de subida dos juros nos EUA causam ao Brasil. “O problema é que, quando sobem os juros lá, somos obrigados a responder de maneira muito mais intensa”.
Belluzzo explica que o fato da moeda brasileira não ser conversível (não ser aceita fora do país, como é o dólar e o euro), exige um esforço ainda maior para atrair a moeda estrangeira dos investidores internacionais para o Brasil.
“Quando sobem o juros lá, se o governo brasileiro responde com juros, vai ter que responder de maneira muito mais intensa, porque esse sistema monetário internacional é assimétrico e favorece uns e desfavorece outros”, critica.
Demanda por energia
Conforme analisa Belluzzo, as práticas políticas ignoram a importância da oferta energética na cadeira econômica. O papel fundamental do petróleo e da energia elétrica para o funcionamento das economias precisa ser considerado em qualquer decisão macroeconômica.
Ele mencionou que uma das grandes transições na Revolução Industrial foi a energia não-humana, com o uso do vapor a carvão, depois a eletricidade e o combustível baseado em petróleo. Foram escalas da transição industrial que aumentaram os saltos de produtividade.
“Isso tudo acaba se disseminando pelo conjunto da sociedade. As empresas vivem do abastecimento de energia, o transporte que mobiliza as pessoas também é feita por energia. É um elemento crucial ignorado pela visão e práticas de politica econômica vigentes”, acusou.
Belluzzo vê economistas e jornalistas, todos os dias, analisando essa cadeia econômica de forma totalmente equivocada, para justificar as práticas macroeconômicas atuais. “Um choque de oferta se dissemina por toda a economia. Isso atinge também os trabalhadores que demandam aumento de salários, que vai ter inflação mais a frente. Se sobe a taxa de juros de maneira absurda o que acontece é que prejudica todo mundo”, disse.
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