11 setembro 2022

No primeiro ou no segundo turno?

Ciro, Simone e outro punhado de votos que pode eleger Lula

Em cenário quase estável e apertado, nichos de eleitorado podem decidir a eleição no dia 2
Vinicius Torres Freire, Folha de S. Paulo

 

Faz mês e meio, as diferenças nas pesquisas Datafolha sobre a eleição presidencial têm sido pequenas. Seria possível até dizer que, em caso extremo, improvável, a diferença entre Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) praticamente não se alterou nessas semanas. Não parece ser o caso, dado o conjunto das estatísticas, como a diminuição da vantagem petista também no segundo turno ou a melhora discreta da avaliação do governo. Mas a eleição pode se decidir em detalhes, em nichos, em punhados de votos.

Antes de continuar, três lembretes:

  1. Lula tem 48% dos votos válidos no primeiro turno (já teve quase 52%, em fins de julho);
  2. Eleitores não muito decididos de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) podem render dois pontos para Lula, no limite;
  3. Parece ninharia, mas recorde-se: Lula passou para o segundo turno da eleição para presidente de 1989 com uma vantagem de 0,67% dos votos sobre Leonel Brizola (1922-2004), do PDT.

O que ainda pode ser decisivo, como uma definição em primeiro turno ou meios de Bolsonaro reduzir a grande distância para Lula em uma segunda rodada?

Primeiro, sobram cada vez menos votos no poço de indecisos, nulos e brancos e há menos gente declaradamente propensa a mudar de ideia. No conjunto do eleitorado, 77% dizem estar decididos; são 86% entre os eleitores de Lula, 83% entre os de Bolsonaro.

Pode haver votos a explorar no balaio de Ciro e Simone, ressalte-se: 54% dos eleitores de cada um dizem que podem mudar de voto. No limite, na ponta do lápis, dariam hoje uma vitória a Lula na primeira rodada, tudo mais constante.

Segundo, o avanço de Bolsonaro indica o sucesso relativo de uma estratégia: depredar Lula, recuperar votos em seus nichos e se aproveitar da discreta melhora socioeconômica. Se dá para tomar os números ao pé da letra (as diferenças são pequenas), Bolsonaro avançou retomando votos entre homens, evangélicos e, aparentemente, no interior do Sudeste.

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Lula parece não ter estratégia a não ser esperar que a rejeição a Bolsonaro continue majoritária e que a campanha bolsonarista não faça mais estrago na imagem do petista. "Jogar parado", como se diz.

Terceiro, Lula bate Bolsonaro por 58% a 42% em um segundo turno. A se repetirem abstenções, nulos e brancos de 2018, Bolsonaro precisaria tirar uns 9 milhões de votos de Lula a fim de empatar o jogo. É muito ou é possível?

A rejeição a Bolsonaro entre os eleitores de Ciro (65%) e de Simone (73%) continua muito maior que sua rejeição média (51%). Para que esse jogo vire, Lula tem de fazer alguma bobagem grande e/ou Bolsonaro provocar uma convulsão nas quatro semanas de campanha de um segundo turno. Por que Bolsonaro não o faria?

Um candidato se elege porque seus apoiadores pedem voto
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