Bolsonaro impotente
Em práticas eleitorais
legítimas, não tem muito o que fazer
Janio
de Freitas, Folha de S. Paulo
Logo
em seguida a dois grandes atos de
campanha com transmissão nacional de TV —o de Brasília e o do
Rio— e já em plena propaganda eleitoral de TV e rádio, Bolsonaro não colheu no Datafolha
mais do que dois pontinhos presos na margem de erro. Duvidosos,
portanto. São números positivos de um fracasso, ao contrário do que numerosas
interpretações lhes atribuíram. Mais aproximam Lula do êxito no primeiro turno.
Mas preservam ou aumentam as incertezas sobre as possíveis condutas dos
militares em derrota de Bolsonaro.
Contradição
aparente, o ganho de Bolsonaro não alterou a vantagem de Lula. Como Ciro perdeu
dois pontos e os demais continuam estáticos, esses dois pontos fugidios compensaram os dois novatos
de Bolsonaro. Mais dois, menos, a soma de todos os candidatos exceto
Lula não aumentou. E só o aumento real dessa soma ou quedas de Lula podem
distanciá-lo mais da decisão no primeiro turno.
Mantidos
os seus 45 pontos percentuais, em estabilidade e pontos que a pesquisa Ipec confirma com
repetidos 44, Lula manteve também, inalterado, o apoio quase maior que a soma
de todos os outros —superioridade determinante de vitória no primeiro turno.
Outro dado faz a mesma indicação: descartados os votos nulos e brancos, a
subida de Bolsonaro não afastou Lula da distância de apenas dois pontos para
chegar aos 50% dos votos válidos.
Leia também: Bolsonaro e o
baile da Ilha Fiscal https://bit.ly/3eqD64I
A
esta altura, os números que afirmam a estabilidade real entre os candidatos não
são fator único. Há o tempo até à votação, por exemplo. Sem sobressaltos, três
semanas são prazo difícil para subidas de Bolsonaro que detenham Lula. Situação
oposta à dos dois pontos faltantes para a decisão lulista já na primeira
rodada. Nem por isso, no entanto, o jogo eleitoral está em vésperas seguras dos
seus momentos culminantes.
Bolsonaro está impotente.
Em práticas eleitorais legítimas, não tem muito o que fazer. O fiasco do 7 de
Setembro, com 100 mil presentes em cada um dos eventos, no lugar do milhão
esperado em Brasília e outro tanto no Rio, sugerem não estar distante do seu
limite de aderentes. O filho Carlos, voz mais
influente, propõe táticas que os marqueteiros não aceitam, e vice-versa. O
próprio Bolsonaro acredita em indisciplina de militares, não em escolhas pelos
eleitores.
Além
do mais, o quadro da disputa recai sobre outra situação complexa: a denunciatória
movimentação imobiliária e de dinheiro "em espécie e na moeda
corrente" feita pela família enriquecida. A vice-procuradora Lindôra Araujo, a quem
se espera ver um dia respondendo por improbidade, prevaricação e outros
hábitos, tem se associado a Augusto Aras em
pretendidas impugnações de investigação dos Bolsonaro e de empresários
golpistas. Mas o Supremo, por Alexandre de Moraes,
mantêm os riscos para a corrupção sem piso e sem teto. Por trás dela há o quase
inimaginável
Nenhum comentário:
Postar um comentário