13 julho 2023

Enio Lins opina

A escalada das cheias mais frequentes

Enio Lins



Aparentemente, a cada ano, a quadra chuvosa (abril, maio, junho, julho – podendo alcançar agosto) alaga mais em Alagoas. Essa constatação precisa ser respondida com ações públicas mais efetivas, mais antecipadas e planejadas em conjunto.

Esse processo natural é velho conhecido e, rezam as lendas urbanas e rurais que grandes enchentes se repetem a cada 10 ou 11 anos, nos mesmos locais, esborrando a partir dos vales do Mundaú e do Paraíba. Sem esquecer o sertanejo Ipanema, lógico.

Quem tem mais de seis décadas no lombo se lembra da grande cheia de 1969, que praticamente engoliu São José da Laje e devastou todo Vale do Mundaú. Lembrar-se-ão também esses ex-jovens do fenômeno – anual – dos “flagelados”.

Todo ano, até o começo dos anos 80, com a construção do Dique-estrada, a Lagoa Mundaú teimava em se alargar e alagar com força, avançando, em Maceió, sobre as humildes moradias que ocupavam sua orla, desabrigando centenas de famílias.

Recolhidas às baias do Parque da Pecuária, os “flagelados” ocupavam, por semanas, as áreas projetadas para bois e cavalos; quando as águas recuavam, avançavam de volta para o que havia restado de seus casebres e no ano seguinte, a coisa se repetia.

Uma vez edificado, o Dique-estrada acabou com as enchentes ao longo de sua extensão, é certo, mas – obviamente – não reduziu a miséria que segue flagelando boa parte dos moradores da beira da lagoa (tema para outro comentário).

É de se perguntar: um dique é boa solução ambiental? No trecho em que foi construído, aparentemente, resolveu o problema das enchentes. Pode ser usado, sem causar alterações significativas à Natureza noutros locais?

E qual o impacto ambiental dos muitos aterramentos em áreas alagadiças que têm sido feitos para o acomodamento de loteamentos de luxo especialmente na área da grande Maceió e do complexo estuarino dos canais e lagoas?

Certo é que não se pode entender essas cheias periódicas como problemas restritos às prefeituras. Se faz indispensável um plano estadual, e apoio federal, para uma intervenção ampla e eficaz que proteja as comunidades ribeirinhas e lacustres.

Certo é que no próximo ano teremos chuva novamente.

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