Culto aberto à intolerância e ao crime
Enio Lins
Conforme divulgado ontem, o MP abriu formalmente uma investigação contra um cidadão que se apresenta como “pastor evangélico” e que, durante um “culto” amplamente divulgado nas redes sociais, pregou o assassinato de homossexuais.
De fato, nos trechos disponíveis na internet, é evidente a incitação ao homicídio de pessoas não-binárias, inclusive com o “pastor” insistindo na pergunta sobre o que os fiéis fariam para cumprir aquela “palavra de Deus”.
Relembrando: o “culto” foi realizado num “templo”, localizado na cidade americana de Orlando, de uma seita denominada de “Igreja Batista da Lagoinha” e transmitido para o Brasil; o “pastor” inicia a peroração condenando o casamento homoafetivo.
Falando como se fosse Deus, o sujeito diz “se Eu pudesse, Eu matava todo mundo e começava tudo de novo. Mas, prometi para Mim mesmo que não posso, então, está com vocês” – e completa: “Vamos para cima! Eu e minha casa serviremos ao Senhor!”.
Como era de se esperar, e essa foi a intenção, a fala criminosa se espalhou freneticamente, como fogo morro acima, pelas redes sociais, multiplicando a divulgação do nome do indivíduo (que não será repetido aqui) como vírus contagiante.
Em qual contexto cai e rola essa fala? Num Brasil que, em dados de 2021, é considerado o país onde mais se mata pessoas da comunidade LGBTQIA+ no mundo – dados divulgados pelo Instituto Sou da Paz. As estatísticas, independente do ranking, são dantescas.
Segundo o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, em 2021, foram registrados 316 assassinatos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, intersexuais – e outros – no Brasil. O número pode ser maior, pois nem todos esses crimes são registrados assim.
Mais preocupante fica o quadro quando, nos últimos anos, a pregação contra toda existência não-binária assumiu ares de poder constituído, com “celebridades” governamentais garantindo que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”.
Notícias sobre violências e assassinatos contra pessoas LGBTQIA+ são abundantes em todas as mídias. Acintosamente, esse terror cresce no Brasil.
Menosprezar essa tragédia é um crime hediondo, assim como é criminoso e covarde considerar esse tipo de fala como “liberdade de expressão” e/ou “liberdade religiosa”.
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