04 julho 2023

Minha opinião

O direito a ter sua própria opinião

Luciano Siqueira

 
Embora haja, obviamente, uma distância de milhões de anos luz entre o presidente Lula e a liderança que exerce e a minha trajetória, vale o registro da minha própria experiência nesse item. 
 
De quê?
 
Do direito a ter a sua própria opinião sem precisar prestar contas de cada detalhe ou, pior, se submeter a um pretenso senso comum.
 
Você abre os sites de notícias e opiniões, sobretudo os vinculados às grandes empresas jornalísticas que monopolizam a informação no Brasil, e lê diariamente questionamentos e cobranças sobre o que Lula disse ou deixou de dizer.
 
Você que me lê agora poderá ponderar:
 
— São as implicações do papel político que ele exerce.
 
— Em parte sim, mas na maior parte significa uma tentativa de enquadrar o presidente no pensamento que se pretende dominante na sociedade brasileira, cuja essência traduz os interesses do capital financeiro, do poderoso agronegócio e dos EUA, contra argumento.

No meu caso — guardadas as abissais proporções, repito —, sempre se tratou de um militante comunista com uma história pregressa de resistência à ditadura militar e que passara a exercer funções públicas relevantes: duas vezes deputado estadual, uma vez vereador na capital, quatro vezes vice-prefeito do Recife e durante prolongado período presidente estadual do PCdoB.

Do lixo acumulado na esquina e da revisão do Plano Diretor da cidade ao valor dos ingressos no campeonato de futebol pernambucano ou ao novo álbum lançado por Alceu Valença, de um modo ou de outro se pedia a minha opinião em indisfarçado tom de cobrança.

Ainda hoje é assim, em determinados círculos..
 
Um assédio que incomoda. Ameaça a todo instante a sua liberdade de pensar e sentir segundo critérios e impressões pessoais..
 
Claro que Lula tem o dever de considerar, em seus posicionamentos públicos, a condição de líder de uma ampla frente política e social de caráter democrático, que contém em si mesmo contradições no modo de enxergar os problemas com os quais o governo lida cotidianamente.
 
Então o presidente tem a cautela de traduzir um consenso mínimo, explicitado ou ainda implícito.
 
Porém pode, por que tem esse direito, ressalvar sua opinião pessoal.
 
Fora disso ele não seria um líder, mas tão somente instrumento ou joguete a juízo da elite dominante.
 
No plano pessoal, válido para cada um de nós que em alguma medida lidere uma empreitada coletiva, é preciso ter a maturidade e o equilíbrio para traduzir o processo sem entretanto liquidar com a liberdade pessoal de sentir e de pensar.

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