As múltiplas trincheiras do governo Lula*
Luciano Siqueira
Dois novos ministros do centrão foram empossados ontem. Viva! Ponto para o governo.
Como assim, se tantas são as críticas à aliança que se concretiza?
A grande mídia pró-mercado financeiro denuncia o que seria a repetição de "erros" passados.
Segmentos situados à esquerda criticam o que consideram concessões indevidas por parte do presidente Lula.
Compreensível.
A grande mídia segue sua cruzada destinada a manter o governo dentro dos limites neoliberais, pouco se importando com o real crescimento econômico em bases progressistas e socialmente proveitosas.
Tanto que o PAC 3, ao invés de ser saudado como iniciativa positiva do governo, desde o primeiro instante é mantido sob suspeita com o argumento de que não é possível correr o risco de endividamento público além do "aceitável".
Para essa gente — vale dizer, o rentismo e o grande agronegócio exportador — a reconstrução nacional não conta.
Mesmo parcela expressiva do que ainda nos resta de grande indústria se mantém à sorrelfa, preferindo apostar na bolsa ao invés de investir na produção.
Quanto aos estridentes questionamentos à esquerda, reverberados através sobretudo da mídia digital, fazem-se à revelia da situação concreta. Supõem, baseados numa realidade imaginária, que seja possível governar contando apenas com o voto certo de um quinto dos parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados!
Puro infantilismo político.
Entrementes, cabe sim ao governo seguir adiante.
Vem dando certo ao recuperar o protagonismo do Brasil na cena internacional; ao reeditar programas sociais comprovadamente produtores de redução da miséria e ao reestruturar o padrão de gastos públicos em setores nevrálgicos do Estado — da Educação e da Saúde à infraestrutura, passando pela Ciência e Tecnologia, por exemplo.
Mas ainda tem muito chão a percorrer, às voltas com três prioritários intentos ainda não resolvidos: a relação equilibrada com as Forças Armadas, a retomada consistente das atividades industriais e a conquista de maioria parlamentar minimamente confiável (que além dos dois novos ministérios deve envolver outros espaços importantes, como a Caixa Econômica Federal e a permanente negociação de emendas ao Orçamento Geral da União).
Em síntese, são muitas as trincheiras onde batalha o governo Lula. E é preciso seguir enfrentando-as com firmeza e bom senso para que possamos realizar com êxito a transição do estado de descalabro herdado do governo passado a um novo ciclo de transformações progressistas no país.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
Adiante há retas e curvas https://bit.ly/3Ye45TD
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