Conflito entre Israel e Palestina revela a falência da mídia corporativa, diz James Onnig
"Parece até que o Hamas ganhou o conflito, porque as imagens só mostram a destruição em Israel", diz especialista em geopolítica
Ana Gabriela Sales/Jornal GGN
A cobertura enviesada e, por vezes, superficial da grande mídia sobre o conflito entre Israel e Hamas joga luz sobre a “falência” do humanismo do setor corporativo, de acordo com a análise de James Onnig, professor de geopolítica do Laboratório de Pesquisa em Relações Internacionais da FACAMP. Onnig falou com exclusividade ao jornalista Luís Nassif, no programa TV GGN 20 Horas [assista abaixo], na noite de quarta-feira (12).
Segundo o especialista, o crescente no conflito no Oriente Médio “decreta mais uma falência da mídia corporativa” no Brasil, porque este é “mais um momento em que é muito difícil acessar informações” isentas ou equilibradas.
“Parece até que o Hamas ganhou o conflito, porque as imagens [repisadas nas emissoras e portais] só mostram a destruição em Israel. A cobertura é tão parcial, descamba para as fake news envolvendo vidas, e isso chega a níveis absurdos”, analisou o professor.
“A cabeça de Netanyahu já está na bandeja”
Ao analisar a posição dos países árabes no conflito, Onnig apontou a implosão do governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu como inevitável, e destacou que relações entre essas nações já estavam deterioradas devido à posição incisiva israelense sobre as questões palestinas, acordos militares e até de desenvolvimento.
“A cabeça de Netanyahu já está na bandeja e será cortada. Porque hoje as reações das sociedades israelenses já são bastantes incisivas contra esse governo. É interessante lembrarmos a forma com que Netanyahu se dirigiu à nação israelense, dizendo que eles estão em guerra, enquanto no direito internacional não se tem guerra entre o Hamas e Israel”, disse.
“A guerra pode parecer uma questão única e exclusivamente semântica, mas é uma guerra que pode ter desdobramentos piores, uma vez que ela vai durar mais tempo do que se imagina”, ressaltou.
Sobre a posição de outros países árabes, Onnig anotou que “a Arábia Saudita [vem] condenando o ataque e deve manter uma posição mais distante de Israel. Já o governo jordaniano está muito preocupado com a massa de jovens palestinos que lá resistem, porque a Jordânia é um país com grande população de origem palestina. O Hezbollah fez ataques no norte de Israel, no sul do Líbano. Esses desdobramentos podem atingir principalmente a opinião árabe, e quando isso acontece, essas lideranças tendem a se movimentar”, pontua o professor.
Israel só perde
Onnig e Nassif também comentaram sobre as influências da China sobre Israel com a Rota da Seda, e as iniciativas dos Estados Unidos para não ficar para trás. Segundo o professor, a partir do conflito, Israel fechou portas para o desenvolvimento.
“Os chineses, indianos, iranianos e russos já começam a conversar sobre uma ligação rodoviária de São Petersburgo até o Golfo Pérsico e isso alarmou muito os Estados Unidos (…) Mas Israel perdeu, o governo de Netanyahu se fechou – de novo – numa concha nacionalista, de discurso extremamente radicalizado. Ele volta ao poder muito mais amparado pelos partidos religiosos, que exigem essa atuação xenófoba principalmente em relação aos palestinos”, explica Onnig.
O desmonte da diplomacia dos EUA e a ascensão da China
Já sobre o papel direito dos Estados Unidos neste limbo, Onnig fez uma relação com a ruína das políticas externas ainda da era Bill Clinton, quando a expansão do capitalismo se dava pela tomada de regiões sob a influência americana e afastando a Rússia.
“A diplomacia americana falha muitas vezes, e desta vez, eles estão perdidos com essa alternância de poder entre [Donald] Trump e [Joe] Biden, em que a política externa dos Estados Unidos deixou de colaborar com o mundo novo. Isso nós sabemos que eles não querem, mas é uma emergência que tem que se fazer”, alertou o professor.
Nassif, por sua vez, colocou em discussão a necessidade dos EUA sobre a guerra para movimentar sua indústria bélica, de grande peso para seu crescimento econômico, e que beneficia ainda gigantes da tecnologia.
“Geograficamente, a indústria bélica está distribuída nos Estados Unidos para favorecer determinados candidatos. Ou seja, há uma mistura entre política industrial bélica com a política eleitoral e isso não dá certo, porque se criam empregos, mas precisa dos conflitos para a demanda crescer”, destacou Onnig.
Por fim, o professor falou sobre como o conflito entre Israel e Palestina pode agravar a situação da Guerra entre Rússia e Ucrânia. “A base Ucrânia e a Rússia estão diretamente ligadas ao arrefecimento da luta entre Israel e Palestina, porque nessa hora se colocam grandes blocos de poder e o capital se transforma no principal problema para se entender o futuro da sociedade”, completou.
Com quantos paus se faz uma jangada? https://bit.ly/3Ye45TD
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