23 outubro 2023

Enio Lins opina

Para os Estados Unidos, paz é prejuízo e guerra é lucro
Enio Lins*

Ao votar contra a proposta do Brasil pela abertura de um corredor humanitário para acudir as vítimas da guerra entre Israel e palestinos, os Estados Unidos confirmaram sua tradição de defender a guerra acima de tudo.

Maior produtor de armas no planeta e país que está em guerras além de suas fronteiras desde o século XIX, tendência acentuada depois da II Guerra Mundial, os Estados Unidos continuam apostando na violência global.

PAPEL RELEVANTE, AO MENOS UMA VEZ

Sem dúvida, papel fundamental teve os Estados Unidos na II Grande Guerra Mundial: 16 milhões de militares americanos foram mobilizados, 405 mil morreram, 761 mil ficaram feridos, 130 mil aprisionados e desses 14 mil não voltaram.

Ombreado com Reino Unido e União Soviética, os Estados Unidos integrou o trio de potências que, com gigantescos sacrifícios, derrotou a maior máquina de guerra e terror já montada: o Eixo Nazifascista (Alemanha, Japão e Itália).

Essa é uma dívida que o mundo não pode esquecer: a derrota do nazifascismo, vitória só alcançada com a união dessas potências – Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, trio ao qual se juntaram forças de praticamente todas as nacionalidades.

GUERRA PERMANENTE, UM LEMA AMERICANO

Entre 1846 e 1848, os Estados Unidos engoliram metade da área mexicana original, crescendo em mais 2,1 milhões de km², quase a totalidade desses territórios tomados ao México na bala, na guerra de agressão, com alguma compra no meio.

Theodore Roosevelt Jr., presidente ianque entre 1901 e 1909, formulou a teoria do “Big Stick” (grande porrete), adulterando a Doutrina Monroe (que tinha um discurso de combate ao colonialismo) para justificar o neocolonialismo dos Estados Unidos.

Num pulo para os dias em curso, registra-se que apenas neste jovem século XXI, os Estados Unidos participaram de sete guerras: Afeganistão (2001), Iraque (2003), Síria (2011), Sudão (2013), Líbia (2014), Iêmen (2014), Palestina (2021).

Considerando o Século XX, apenas pela Wikipédia, foram 26 intervenções militares externas ao território estadunidense, desde a Guerra de Fronteira (interferindo na Revolução Mexicana) entre 1910 e 1919, até a Guerra de Kosovo, entre 1998 e 1999.

INDÚSTRIA DA MORTE

Desde a Doutrina Big Stick, ou antes, a indústria armamentista americana cresceu sem parar. Para vender seus produtos, mantêm aquecido o mercado da guerra (coisa muito antiga, que os estadunidenses não inventaram, reconheça-se).

Reportagem no El Pais, em 2021, sobre a indústria de armas: “Os Estados Unidos mantiveram a sua hegemonia global: as 41 empresas deste país incluídas entre as 100 maiores do mundo representaram 54% das vendas totais no ano passado, com 285 bilhões de dólares (1,6 trilhão milhões de reais), um alta de 1,9%. Como tem acontecido desde 2018, as cinco maiores empresas são norte-americanas: Lockheed Martin, Raytheon, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics”.

Assinala o Money Times que o atual conflito Israel x Hamas acrescentou bilhões de dólares em valor de mercado a seis das dez maiores empresas armamentistas do mundo. “Dessas empresas, cinco são norte-americanas e uma é britânica. Elas produzem caças, mísseis e sistemas de defesa em geral, como tecnologia para esses equipamentos. Juntas valem US$ 394 bilhões, mais que metade do índice Ibovespa, atualmente em R$ 3,4 trilhões”.

Assim, se entende o voto americano contra a proposta brasileira. Para a elite estadunidense a guerra é lucro e poder, paz é prejuízo.

*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador

Guerras são boas para quem? https://bit.ly/3Ye45TD 

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