Em 70, Zagallo convocou dois centroavantes, mas mudou de ideia na escalação
Só os ignorantes e os radicais possuem certezas absolutas - e nunca aprendem
Tostão/Folha de S. Paulo
Depois do atentado contra os jogadores do Fortaleza, com inúmeros feridos, um torcedor do Cruzeiro morreu após confronto entre torcidas do Atlético-MG e do Cruzeiro, violência que continuou dentro e fora de campo no jogo entre São Paulo e Palmeiras. É um triste cenário.
O futebol brasileiro precisa se libertar das brigas dentro e fora de campo, das reclamações e provocações. Mesmo assim os estádios continuam cheios —e não deve ser pela qualidade do espetáculo. É uma situação violenta, patológica. Não basta tomar decisões isoladas, esporádicas, mesmo positivas. É necessária uma transformação estrutural e permanente.
Não é só isso. Segundo relatório feito pela consultoria global Sportradar, com sede na Suíça, o Brasil lidera o ranking mundial de jogos suspeitos de manipulação de apostas esportivas. O país legalizou as apostas em eventos no fim de 2018.
No clássico paulistano, com sete jogadores que fazem parte de seleções da América do Sul (quatro do Brasil, um do Equador, um do Uruguai e outro da Colômbia), houve muito tumulto durante e depois do jogo, muitas grosserias de Abel Ferreira e do presidente do São Paulo Júlio Casares, muitas decisões polêmicas do arbitro e pouca qualidade no futebol.
Enquanto isso, no fim de semana, os rivais Manchester City e Manchester United fizeram um belíssimo jogo, com pouquíssimas faltas, sem tumultos, com vitória do City, de virada, por 3 x 1. O City deu mais um show de talento individual e coletivo. É o atual campeão inglês e da Europa. Mesmo se não conquistar na atual temporada um ou os dois títulos, já é um dos grandes times da história do futebol mundial, mais pelo futebol bonito e eficiente que pelos títulos conquistados.
Dorival Junior gostou mais do clássico brasileiro entre São Paulo e Palmeiras ou do inglês entre os dois times de Manchester? Um leitor que encontrei na banca de jornal discordou da minha opinião sobre os quatro jogadores essenciais (Ederson, Marquinhos, Casemiro e Vinicius Junior), que foram convocados para a seleção brasileira. Para o leitor, apenas Vinicius Junior é essencial, Já outro leitor acha que Paquetá e Rodrygo são também indiscutíveis, titulares.
As opiniões diferentes me ajudam a refletir e provocam dúvidas sobre as minhas preferências. Logo imaginei a seleção com Rodrygo e Vinicius Junior entrando em diagonal e Paquetá, pelo centro, chegando à área, e não parado na frente. Assim joga o Real Madrid, sem centroavante, com os dois brasileiros e mais Bellingham. Formam um grande trio. Unem a enorme lucidez e o toque preciso de Bellingham à grande habilidade e velocidade de Vini e Rodrygo.
Na formação de um conjunto, muito mais importante do que o tempo que os jogadores atuam juntos é a complementação das características dos atletas. Na primeira vez que treinei ao lado de Dirceu Lopes, no Cruzeiro, ambos com 16 anos, parecia que jogávamos juntos havia mil anos.
Quando Zagallo assumiu a seleção, antes da Copa de 70, convocou dois clássicos centroavantes (Dario e Roberto), disse que um dos dois seria o titular e que eu seria o reserva de Pelé, pois era da mesma posição do Rei. Eu tinha convicção de que a seleção precisava, para jogar entre Pelé e Jairzinho, dois craques artilheiros, de um centroavante armador. Zagallo mudou de ideia.
Só os ignorantes e os radicais possuem certezas absolutas. Nunca aprendem, pois só enxergam do seu jeito ou do jeito da sua patota.
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