Para
ti
Mia
Couto
Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida.
[Ilustração: Emilio Pettoruti]
Leia também: Araguaia em memória de lendas e sangue https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/cida-pedrosa-em-destaque.html
Um comentário:
Quanta sensibilidade.
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