Dei a volta ao mundo num barco a remo
Pedro Caldas Ramos
Quem acorda para Remar nunca sabe se vai remar.
Quem vai remar nunca sabe por qual caminho vai até pôr o barco na água,
posicionar os remos e fechar as forquetas. Quarta-feira quando fomos para a
água, umas cinco e dez da manhã, só remamos e fomos seguindo automaticamente
até perto do Sport, foi quando houve a pergunta: e aí, bora? Bora!
Ir significava dar a “VOLTA AO MUNDO”, ou seja,
dar uma volta na Ilha de Antônio Vaz.
(Dar a VOLTA AO MUNDO é sair do náutico passar
pela Boa Vista e Coelhos, dobrar no braço sul do Capibaribe, sair no Parque dos
Manguezais, passar pelo Riomar/Pina e entrar no recife antigo, ou seja, remar
por mais de dez quilômetros (para quem sai da Rua da Aurora, como nós) passando
por Santo Amaro, Boa Vista, Coelhos, Joana Bezerra, Cabanga, Afogados,
Imbiribeira, Ilha de Deus, Pina, São José, Recife Antigo, Santo Antônio e Santo
Amaro novamente. Uma loucura.)
Mas e aí, bora? Bora! Fomos para o desconhecido
e foi uma experiência louca, vivi um misto de medo, cansaço e êxtase por uma
hora enquanto navegava pelas costas do Recife.
O primeiro Trecho, já muito conhecido por nós
tem uns 3,5 km e vai do náutico até o perto do Hospital Português, foi
tranquilo e basicamente o aquecimento. Não sabíamos que iríamos fazer o que
fizemos e por isso foi sem expectativas.
Isso durou até entrarmos no Braço Sul do
Capibaribe.
Remando esquerda entramos no segundo trecho, no desconhecido. O Braço Sul do Capibaribe é estreito, relativamente curto e são as costas de Joana Bezerra e Afogados, uma parte cheia de miséria, viveiros (que aparecem entre os casebres) e pontes. Fomos surpreendidos pela passagem de um metrô que quebrou a trilha sonora de remos, aves e da respiração ritmada. O fim desse trecho é marcado por uma ponte bem baixa que nos impede de ver o que vem a seguir.
Remando esquerda entramos no segundo trecho, no desconhecido. O Braço Sul do Capibaribe é estreito, relativamente curto e são as costas de Joana Bezerra e Afogados, uma parte cheia de miséria, viveiros (que aparecem entre os casebres) e pontes. Fomos surpreendidos pela passagem de um metrô que quebrou a trilha sonora de remos, aves e da respiração ritmada. O fim desse trecho é marcado por uma ponte bem baixa que nos impede de ver o que vem a seguir.
Passada a Ponte surge um mundo d’água cheio de
canais, mangue, casas e barcos de pesca atracados, o vento frio da manhã
nublada bate forte e é sentido por todo o corpo. Esse foi um momento de êxtase
profundo, a paisagem é bonita e desconhecida (pelo menos desse ponto de vista)
e nunca me imaginei ali num barco de dois palmos de largura.
Paramos na frente do Riomar, a água meio calma
pouco nos movia e deu para se hidratar tranquilamente. Eu e Heleno
conversávamos sobre a cidade e sobre a remada até que bateu uma rajada de vento
frio, sinal de que a chuva se aproximava, era melhor não ficar ali.
Voltar a remar foi necessário, a maré não nos
ajudava e estávamos regredindo. A dor nas pernas apareceu e sumiu assim como um
barco de pesca que apareceu, seguimos.
Enquanto remava não percebi a aproximação das gigantes pontes do Pina e confesso que me assustei, nessa parte da jornada todas as proporções são gigantescas e nós minúsculos.
Enquanto remava não percebi a aproximação das gigantes pontes do Pina e confesso que me assustei, nessa parte da jornada todas as proporções são gigantescas e nós minúsculos.
O tempo foi fechando e o vento ficando mais
frio, sinal de que a chuva ia chegar. Aumentamos o ritmo na tentativa de não
tomarmos banho, o que de nada adiantou, já que no meio do Cais José Estelita a
chuva fina começou a cair. A nossa sorte é que a chuva era fraca e o vento
inexistente, ou seja, poderíamos ter sofrido muito mais. Cerca dez minutos
depois a chuva cessou, o corpo estava molhado de suor e de chuva e seguimos
remando.
O fim do Cais José Estelita é também o fim da
calmaria, as ondas vão aumentando de tamanho o que começa a dificultar a remada
completa. Remamos normalmente até uma onda cobrir o barco, a água já não era de
Rio e remar normalmente poderia nos fazer virar, aí eu pensei: e se virarmos?
Estaríamos muito fodidos, no mínimo boiaríamos por uma meia hora até que outro
barco passasse e nos desvirasse. Em voz alta perguntei: e se virarmos? Escutei
como resposta: nem pensa nisso... Era melhor não pensar mesmo. Por causa dessas
ondas passamos a remar Meio-Carro (uma remada mais curta e mais segura, porém
mais lenta). Remamos até as Torres Gêmeas onde nem Meio-Carro dava para remar,
as enormes ondas não só nos desequilibravam como nos jogavam para o paredão da
margem, decidimos remar só Braço, ou seja, mais lento ainda só que de forma
totalmente equilibrada. Chegar à Ponte Giratória foi um alívio, a água estava
mais calma e o caminho era conhecido, além de ser a reta final.
O ultimo trecho, passando pelo Recife Antigo e
pelo Cais de Santa Rita, foi tranquilo, não havia ondas e deu para ver a cidade
acordando e o sol saindo , eram umas seis e meia e já dava para escutar os
ônibus e as muitas pessoas que saiam e chegavam, algumas nos olhavam, outras,
mais apressadas, só passavam.
Chegamos à Rampa do Náutico de seis e quarenta
mais ou menos, minhas pernas totalmente destruídas precisaram de um tempinho de
descanso para eu poder sair do barco, a vontade que tinha era de dormir ali
mesmo.
Quando sair do Double estava cansado, mas ainda
precisava tirar o barco da água, lavar e guardar. Sabe o que me motivou nesse
momento? Saber que tinha um cuscuz com ovo e um chá-mate me esperando no
Refeitório, ou seja, o ponto alto do treino de um remador.
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