Revista "Piauí"
O rei está nu e mal
acompanhado
Luciano Siqueira,
no Blog de Jamildo/portal ne10
Numa crise que se arrasta sem sinal de superação, todo fato novo
é importante, ainda que não decisivo. A rejeição do relatório
apresentado pelo senador Ricardo
Ferraço (PSDB-ES) na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, ontem, dá fôlego
à luta contra a reforma trabalhista.
Mais do que isso, sinaliza o avanço das rachaduras na base
parlamentar governista, subproduto do crescente desgaste do presidente
ilegítimo Michel Temer, alvo de ataques da Polícia Federal e da Procuradoria
Geral da República.
Enquanto isso, Temer viaja à Rússia e à Noruega – reconhecem
ministros da sua intimidade – para passar a impressão de que há normalidade no
País.
Arguido sobre a derrota de ontem, transferiu suas expectativas
para a votação em plenário.
Perguntado sobre o relatório da Polícia Federal que o acusa
de corrupção com base em evidências factuais, respondeu (pateticamente) que o
assunto é da esfera judiciária e não política.
Em breve palestra a empresários e autoridades russas, Temer
afirmou sem a menor desfaçatez que “quando a economia dava sinais de
crescimento, surgiram fatos absolutamente ‘irrelevantes’ para perturbar a
superação da crise”, referindo-se ao escândalo da J&F.
Ou seja, o rei não apenas está nu – e faz de contas que se
veste a rigor -, como anda muito mal acompanhado: há os que o apoiam e prenunciam
a retirada e os que já desembarcam das hostes governistas desde já.
Seu “núcleo duro” de governo segue tão enlameado quanto o próprio
presidente, preservado apenas o ministro Meirelles, que a grande mídia e o
Mercado blindam por ser justamente ele o operador do projeto de regressão de
conquistas sociais e direitos e de submissão completa e definitiva de nossa
economia a establishment financeiro externo e interno.
Quando o governador de São Paulo Geraldo Alckmin reafirma
que o apoio do PSDB ao governo está como que “sub judice”, condicionado à
natureza e a à repercussão de novas revelações comprometedoras contra o
presidente, dá a medida da fragilidade atual da coalizão governista.
E a crise aprofunda suas implicações sociais, num misto de
piora crescente das condições de existência da maioria da população e de falta
de perspectiva.
Tendo em mira as eleições gerais do ano vindouro – se de
fato acontecerem -, há espaço para uma alternativa renovadora da política e das
expectativas, desde que se conjuguem forças em torno de uma plataforma comum
consistente e capaz de empolgar a maioria do eleitorado.
Nada está fácil e prevalece a imprevisibilidade.
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