Explorados à exaustão
Segundo um estudo da Universidade de Oxford, a “gig
economy” promove a precarização do trabalho
Gabriel Bonis,
CartaCapital
Um estudo do Oxford Internet
Institute, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostra o impacto negativo
da chamada “gig economy” na qualidade de vida de trabalhadores em países do
Sudeste Asiático e da África Subsaariana. Entrevistas com mais de 700 indivíduos
que utilizam aplicativos ou plataformas online (como Amazon Mechanical Turk,
Fiverr, Freelancer.com e Upwork) para vender sua mão de obra trazem um cenário
preocupante: cargas horárias elevadas por semana, isolamento social,
competitividade predatória, salários baixos e exploração.
Em “Good Gig, Bad Big: Autonomy and Algorithmic Control in the Global Gig Economy”, os pesquisadores explicam que os empregos precários da “gig economy” incluem serviços presenciais “comprados” via plataformas online (como entregadores de comida) e aqueles entregues remotamente, como programação de softwares, traduções, contabilidade, planejamento financeiro, design, fotografia e edição de vídeo.
Segundo os pesquisadores, calcula-se que 70 milhões de indivíduos tenham se registrado em plataformas de trabalho online, e que o uso destes sistemas esteja crescendo 26% por ano.
O estudo aponta que os trabalhadores de plataformas online acabam escravos do sistema de “gerenciamento de algoritmos” que os classifica conforme as avaliações de clientes e a reputação de seus serviços. Quem acumula mais pontos e experiências recebe mais propostas de trabalhos e aparece melhor colocado em buscas.
Embora esse mecanismo force os trabalhadores a manter serviços de qualidade, ele também é problemático devido à imensa concorrência nessas plataformas. Para se manter bem avaliados e bater os competidores, 54% dos entrevistados disseram precisar trabalhar muito rápido, 60% tinham prazos de entrega curtos e 22% experimentaram dor devido ao ritmo intenso.
Apesar da autonomia para se conectar com inúmeros clientes em diversos países e indústrias, esses trabalhadores não conseguiam subir os preços de seus serviços. Isso porque os clientes possuem acesso a milhares de trabalhadores no mundo que cobrariam mais barato para executar um projeto.
Para aumentar a renda era preciso assumir mais contratos, o que acarretava em mais tarefas a serem completadas rápida e eficientemente para manter uma boa avaliação. Assim, os entrevistados trabalhavam muito mais horas por semana e buscavam uma variedade maior de clientes para obter alguma estabilidade financeira.
Por outro lado, mais clientes significa maior demanda e mais chances de não atingir a qualidade desejada. Ou seja, os trabalhadores com boa reputação ficavam presos em um ciclo de exploração para manterem-se relevantes no sistema de buscas. Além disso, esses sites costumam funcionar com contratos que podem ser rompidos sem aviso prévio.
Como muitos interessados apresentavam propostas para cada projeto anunciado, os entrevistados relataram que precisavam oferecer prazos mais curtos para vencer a concorrência. Desta forma, possuíam pouco poder de barganha em relação ao clientes: 80% disseram que seu ritmo de trabalho era determinado pelas demandas dos empregadores e 44% sentiam que eram facilmente substituíveis.
Os entrevistados valorizavam a possibilidade de poder trabalhar onde quisessem, o que os permitia realizar atividades paralelas como estudo ou trabalho fixo. Mas entre os pontos negativos identificados estavam o isolamento social e a solidão.
Essa pequena flexibilidade, contudo, também era ilusória porque precisavam trabalhar quantidades alarmantes de horas semanais para ganhar um salário satisfatório. Um entrevistado do Quênia disse que trabalhava 78 horas por semanas por apenas 3,5 dólares por hora. Por isso, muitos não tinham tempo livre e estavam exaustos.
Segundo o estudo, muitos desses trabalhadores deviam estar disponíveis nos fuso-horários de seus clientes - grande parte deles localizados em países ricos como Austrália, EUA e Reino Unido. Logo, 54% dos entrevistados disseram que dormiam menos de noite.
Eles tinham que tolerar isso por necessidade. De acordo com os pesquisadores, para 73% dos entrevistados esses trabalhos precários (“gig works”) eram uma fonte importante de receita em suas casas, e para 61% essa era a sua principal ocupação.
A maior parte deles conseguia ganhar o suficiente para cobrir as despesas, mas os pagamentos eram de cerca de 165 dólares por semana, em média. Contudo, trabalhadores com avaliações piores tinham rendas bem inferior, em alguns casos ganhavam menos que o salário mínimo local ou até sobreviviam perto da linha da pobreza (58 dólares por mês).
Em “Good Gig, Bad Big: Autonomy and Algorithmic Control in the Global Gig Economy”, os pesquisadores explicam que os empregos precários da “gig economy” incluem serviços presenciais “comprados” via plataformas online (como entregadores de comida) e aqueles entregues remotamente, como programação de softwares, traduções, contabilidade, planejamento financeiro, design, fotografia e edição de vídeo.
Segundo os pesquisadores, calcula-se que 70 milhões de indivíduos tenham se registrado em plataformas de trabalho online, e que o uso destes sistemas esteja crescendo 26% por ano.
O estudo aponta que os trabalhadores de plataformas online acabam escravos do sistema de “gerenciamento de algoritmos” que os classifica conforme as avaliações de clientes e a reputação de seus serviços. Quem acumula mais pontos e experiências recebe mais propostas de trabalhos e aparece melhor colocado em buscas.
Embora esse mecanismo force os trabalhadores a manter serviços de qualidade, ele também é problemático devido à imensa concorrência nessas plataformas. Para se manter bem avaliados e bater os competidores, 54% dos entrevistados disseram precisar trabalhar muito rápido, 60% tinham prazos de entrega curtos e 22% experimentaram dor devido ao ritmo intenso.
Apesar da autonomia para se conectar com inúmeros clientes em diversos países e indústrias, esses trabalhadores não conseguiam subir os preços de seus serviços. Isso porque os clientes possuem acesso a milhares de trabalhadores no mundo que cobrariam mais barato para executar um projeto.
Para aumentar a renda era preciso assumir mais contratos, o que acarretava em mais tarefas a serem completadas rápida e eficientemente para manter uma boa avaliação. Assim, os entrevistados trabalhavam muito mais horas por semana e buscavam uma variedade maior de clientes para obter alguma estabilidade financeira.
Por outro lado, mais clientes significa maior demanda e mais chances de não atingir a qualidade desejada. Ou seja, os trabalhadores com boa reputação ficavam presos em um ciclo de exploração para manterem-se relevantes no sistema de buscas. Além disso, esses sites costumam funcionar com contratos que podem ser rompidos sem aviso prévio.
Como muitos interessados apresentavam propostas para cada projeto anunciado, os entrevistados relataram que precisavam oferecer prazos mais curtos para vencer a concorrência. Desta forma, possuíam pouco poder de barganha em relação ao clientes: 80% disseram que seu ritmo de trabalho era determinado pelas demandas dos empregadores e 44% sentiam que eram facilmente substituíveis.
Os entrevistados valorizavam a possibilidade de poder trabalhar onde quisessem, o que os permitia realizar atividades paralelas como estudo ou trabalho fixo. Mas entre os pontos negativos identificados estavam o isolamento social e a solidão.
Essa pequena flexibilidade, contudo, também era ilusória porque precisavam trabalhar quantidades alarmantes de horas semanais para ganhar um salário satisfatório. Um entrevistado do Quênia disse que trabalhava 78 horas por semanas por apenas 3,5 dólares por hora. Por isso, muitos não tinham tempo livre e estavam exaustos.
Segundo o estudo, muitos desses trabalhadores deviam estar disponíveis nos fuso-horários de seus clientes - grande parte deles localizados em países ricos como Austrália, EUA e Reino Unido. Logo, 54% dos entrevistados disseram que dormiam menos de noite.
Eles tinham que tolerar isso por necessidade. De acordo com os pesquisadores, para 73% dos entrevistados esses trabalhos precários (“gig works”) eram uma fonte importante de receita em suas casas, e para 61% essa era a sua principal ocupação.
A maior parte deles conseguia ganhar o suficiente para cobrir as despesas, mas os pagamentos eram de cerca de 165 dólares por semana, em média. Contudo, trabalhadores com avaliações piores tinham rendas bem inferior, em alguns casos ganhavam menos que o salário mínimo local ou até sobreviviam perto da linha da pobreza (58 dólares por mês).
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