14 setembro 2018

Quem tem medo do voto?


Mercado admite: 'Haddad vai crescer nas pesquisas e estará no segundo turno'
A pesquisa divulgada pelo XP-Ipespe, que aponta um crescimento de Fernando Haddad, candidato indicado por Lula para substitui-lo na disputa eleitoral colando em Jair Bolsonaro (PSL), o mercado promove a sua campanha de terror pré-eleição, com ataque especulativo cambial, elevando a cotação do dólar.

Por Dayane Santos, no Vermelho

Junto com a pesquisa, a XP Política emitiu relatório de análise sobre os números e tendências da pesquisa no qual afirma: “A principal aposta da XP Política hoje é um segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT)”. De acordo com o relatório, a “astúcia tática de Lula” e a inviabilização de Alckmin os levaram a chegar a essa conclusão.

O site InfoMoney, veículo de notícias do mercado financeiro e um de seus porta-vozes, seguiu a diretriz da XP, ligada ao Banco Itaú, e disse em manchete: “Haddad versus Bolsonaro é o cenário mais provável para o 2º turno”.

Na avaliação da XP, a polarização política está entre Haddad e Ciro Gomes que, segundo a análise, disputam o “espólio de Lula” e Geraldo Alckmin, que apesar do maior tempo de rádio e televisão, “briga para ‘tomar de volta’ os votos de Jair Bolsonaro”.

Quanto à candidata da Rede, laureada pelo mercado financeiro nas eleições de 2014, a XP considerou que “não havia cenário em que tivesse relevante chance de vitória”.

A matéria da InfoMoney avalia que a estratégia do tucano Alckmin em usar o seu tempo de rádio e TV, o maior entre os candidatos, estava surtindo efeito. Desconsiderando o fato de que Bolsonaro não apresentou propostas, apenas discurso cheio de chavões e frases de efeito, a XP atribui uma superforça aos marqueteiros do tucano e diz que ele Alckmin fez “crescer a rejeição a Jair Bolsonaro” e estava consolidando a imagem de que o deputado perderia a eleição para o PT, o que seria suficiente para ter os votos em seu favor.

“Mas o atentado a Jair Bolsonaro atingiu também a campanha de Alckmin. O ataque parou os tucanos por uma semana e fez os 9 segundos de propaganda do deputado se transformarem em 24 horas diárias de cobertura midiática, o que, por evidente, mudou a dinâmica das coisas. Por paradoxal que seja, as campanhas presidenciais no Brasil parecem ter o cisne negro como uma constante”, justifica o site.

Mas o InfoMoney tenta tapar o sol com a peneira. Alckmin não decolou e está estagnado nas pesquisas desde o início da corrida eleitoral.

Todas as análises do mercado podem ser resumidas em um único fato: a definição da candidatura da coligação PT-PCdoB-Pros, após o presidente Lula ter seu registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e indicar Fernando Haddad como seu substituto.

Uma frase do artigo do InfoMoney escancarou o que anda tirando o sono do mercado: “Não é exagero dizer que, com o PT em campanha, as eleições começaram de fato”.

Durante os últimos meses, a grande mídia tentou emplacar a tese de que o candidato indicado por Lula não teria a mesma força do ex-presidente, que liderava todas as pesquisas de intenções de voto. Oficializada a substituição, Haddad mostrou que o “poste”, como a imprensa o chama numa alusão a quem supostamente não tem personalidade, estava se movimentando e capitalizando os votos. É isso que está tirando o sono do mercado financeiro. 

De acordo com a XP, ainda que Alckmin volte a elevar o tom contra Bolsonaro, que está internando após ataque a faca em Juiz de Fora (Minas Gerais), não produzirá o mesmo efeito e como o tucano tem uma grande distância do ultradireitista seria difícil chegar em condições para disputar o segundo turno.

Por outro lado, a XP avalia que Bolsonaro ganhou uns votos ao ser humanizado após o ataque. Alcançou os 20% na espontânea e pontua entre 23% e 26% na estimulada dos principais institutos. 

“Mas não resolveu sua eleição neste fato, e a exploração política do ataque pelo lado bolsonarista tem sido pobre. A foto desde a UTI hospitalar fazendo gesto de metralhadora é a evidência visual de que o político do PSL perdeu o primeiro momento de se colocar como o estadista que não é. Esse tempo se esgotou totalmente? Não. Mas em poucos dias as coisas já começarão a ter cara de notícia velha, caso novas informações, especialmente ligadas ao atacante, ou alguma alteração considerável em seu quadro clínico não forem a público”, analisou o InfoMoney, que acredita, no entanto, que ele sim, e não Alckmin, tem condições de chegar ao segundo turno.

Ainda segundo a avaliação do mercado, Fernando Haddad é o candidato de fato competitivo da centro-esquerda. “Ciro, para ir ao segundo turno, precisa de um acidente na campanha petista, coisa que não temos visto. Ciro estará, de certa forma, para Haddad como Álvaro Dias está para Alckmin. Toma alguns votos regionais no mesmo perfil eleitoral mas não mete medo”, diz o site.

Sendo a única campanha que dialoga com o povo e sai às ruas, a coligação “O Povo Feliz de Novo” potencializa e reverbera a força de Lula, que está preso desde 7 de abril.

Com isso, Fernando Haddad, o poste, passa a ser o catalisador dos anseios da população contra o golpe e sua agenda de desmonte do Estado. Com apenas três dias de campanha após a oficialização da candidatura, o site do rentismo admite: “Ele [Haddad] vai crescer nas pesquisas das próximas semanas, e, se nada de anormal acontecer, estará no segundo turno, embalado por uma campanha publicitária tocada por marqueteiros que, até agora, têm feito um bom trabalho, acertando o tom emocional e a leitura política da corrida”.

Para a XP, o seu maior pesadelo vai acontecer e a transferência de votos de Lula para Haddad vai crescer e ele vai se distanciar dos demais candidatos, consolidando a sua vaga para o segundo turno, deixando Alckmin, Ciro e Marina Silva para trás.

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