O “mercado” defende os seus
André Araujo,
Jornal GGN
Nos países
centrais do capitalismo, Estados Unidos e Reino Unido, não passa pela cabeça de
um jornalista político de primeira linha procurar saber a opinião de um rapaz
da bolsa sobre eleições para chefe de governo ou chefe de Estado. O “mercado”
"NÃO" é um ator politico.
A
política se define no mundo político, não na bolsa, o espaço da política é
muito mais importante e não se sustenta nos “mercados” e sim em plataformas
mais altas.
A pobreza da
vida política brasileira, desde o Governo Collor, fez desaparecer o time dos
políticos de primeira linha e com isso subiram ao pódio atores secundários,
coadjuvantes, simples figurantes, a quem ninguém no passado pedia opinião
porque essa não tinha importância alguma, faltava a sabedoria, a qualidade, a
legitimidade.
Hoje
nos comentários políticos chama-se o “mercado” a opinar, como se fossem deuses.
Mas
qual mercado? Há muitos e variados e eles não falam uma só língua. O
agronegócio tem sua lógica, os caminhoneiros tem outra e contraria, qual
prevalece? Quem é importador tem um tipo de interesse, quem exporta
tem outro, quem fabrica quer uma politica, quem distribui quer outra, o
construtor de imóveis quer crédito barato, o aplicador quer juro alto.
Nos
anos Vargas e JK o que hoje se chama “mercados” eram então as CLASSES
PRODUTORAS.
Eram
os grandes industriais e comerciantes, que se contrapunham à CLASSE
TRABALHADORA.
Tratava-se
de figuras de peso e consistência, capitães de indústria como se falava,
experientes, sofisticados, refinados muitas vezes, suas mulheres eram as mais
elegantes, gente traquejada nos negócios e na vida. Eram ouvidos com respeito,
mas o mundo da politica era outro e não se movia a não ser lateralmente por
essas vozes e nem girava em torno delas.
Hoje
a mídia econômica trata o mercado pelo que ele não é, o mercado NÃO é a
plataforma onde se administram os interesses do País, nem os “investidores” que
o mercado representa, o que no Brasil se considera “o mercado” são agentes dos
investidores e não os próprios. Esse ente coletivo NÃO tem a compreensão e nem
a dimensão de todos os interesses do Pais, quem vê o País como um todo, como um
conjunto de interesses, valores e estratégias é o ESTADO.
Quando
Trump, certo ou errado, age contra as exportações chinesas ele está visando o
interesse do País como um todo e não apenas o interesse das companhias
globalizadas que preferem um mercado americano aberto ao que vem de suas
fábricas na China. Não é problemas dessas empresas os desempregos que os
produtos chineses geram dentro dos Estados Unidos, mas é problema do
Presidente, ele foi eleito por causa desse problema.
Não
tem sentido se tentar no Brasil colocar “o mercado” como árbitro de eleição. É
uma diminuição, um apequenamento da questão nacional, muito maior que o
“mercado”, que nesse contexto é apenas a plataforma de capital volátil que
circula pelo mundo e dá uma parada no Brasil. NÃO é definitivamente a estação
onde desembarcam as empresas da economia produtiva que interessam ao Brasil e
que aqui aportaram mesmo nos momentos de mais alta inflação MAS com crescente
demanda de seus produtos no Pais. Algumas empresas como GM, Ford, Siemens,
Lever, Goodyear, Abbott, Lilly, Exxon, Shell, estão no Brasil a bem mais de CEM
anos, esse é o investidor que interessa ao Brasil e que não é entrevistado
pelos comentaristas econômicos da mídia ignorante, esse investidor não está
todo dia em eventos frequentados pela mídia, não é disponível para dar
entrevistas a qualquer hora.
Então
a mídia se encosta nas corretoras, gestoras e bancos de investimento como SE
esses personagens fossem a economia do Pais. ELES NÃO SÃO, é apenas um pedaço
visível e nunca o maior da economia, muito mais complexa do que a Av. Faria
Lima e o Leblon.
Hoje
os comentaristas econômicos alardeiam aos quatro ventos que foram a eventos
onde ouviram o que pensa o mercado sobre esse ou aquele candidato, sua opinião
pesa enormemente, não é apenas uma cortesia ouvi-los. Que pequenez, que
pobreza, que coisa micha, minúscula, medíocre, de pé de chinelo, a politica
cruzando talheres com cambistas.
QUAL
É O MERCADO QUE SE OUVE?
O
chamado “mercado” consultado com reverência pela mídia é o MERCADO ESPECULATIVO
de ações e câmbio, são os “rapazes da bolsa” cujo ÚNICO interesse é o deles, só
eles.
Não
estão nem ai para o País, para os desempregados, para os pobres biscateiros,
para as periferias, para o futuro dos jovens sem futuro, nem para o País que
legarão a seus filhos.
A
“meta” (eles adoram metas) deles é ganhar os tubos no mercado aqui e dar o “bye
bye Brazil”, mudando eles e suas peruas para Miami, com o dinheiro lavado aqui.
Não
lhes passa pela cabeça e não tem o mínimo interesse pela indústria e empregos
no Brasil, pela educação no Brasil, pelo sistema de saúde publica no Brasil,
pelas carências de saneamento e infra estrutura no Brasil, nada disso interessa,
o negócio deles é o “eu mesmo”.
É
esse o mercado aloprado, badalado e consultado pelas Veras, Elianes, Andreias,
Denises, é a opinião deles sobre os candidatos que elas querem ouvir. Pobre
Brasil, um grande País que se encolheu na mão de gente pequena e
insignificante, inculta, sem grandeza e sem visão.
Enquanto
isso, Rússia, China e Índia crescem como potencias porque o Estado deles é
respeitado, a visão de Pais e de povo é central na politica, a sociedade se
orgulha de sua cultura, de seus costumes, de sua língua, de sua música, de seus
projetos de Pais. O Brasil está ameaçado de cair na lata do lixo da História,
acontecimento que será reportado pela GLOBONEWS com direito a luzes e show de
tolices, enquanto o mercado especula com a desgraça do Brasil menor, trilha de
passagem dos fundos especulativos globais.
O
Brasil está na categoria dos grandes países continentais com projeção de poder
estratégico por sua expressão territorial, demográfica, econômica, cultural e
ecológica, é preciso que haja consciência de sua dimensão muito acima e além de
ser apenas um simples mercado.
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