06 setembro 2021

Futebol: nós e os outros

Contra o Brasil, Chile lembrou suas equipes do passado
Seleção não aproveitou, por mau posicionamento e erros individuais, espaços deixados pelos chilenos
Tostão, Folha de S. Paulo

 

Há 23 anos na função de comentarista, acompanho, no campo e pela TV, partidas do Brasil contra o Chile. A frase que foi feita para os mexicanos serve também para os chilenos: “Jogamos como nunca e perdemos como sempre”.

Parecia jogo do passado, já que a maioria dos jogadores chilenos são os mesmos. Só faltaram Salas e Zamorano no ataque. O atual técnico é outro, mas o time jogou como na época de Sampaoli, com três zagueiros e os outros sete pressionando à frente. O Chile teve mais posse de bola, finalizou mais, porém, as chances reais de gol foram pouquíssimas e mais ou menos iguais às do Brasil.

A marcação mais recuada do Brasil foi a novidade. Aconteceu por estratégia ou o time foi empurrado para trás pelo Chile? Seja qual for o motivo, o Brasil não aproveitou, por mau posicionamento e por erros individuais, os enormes espaços deixados pelos chilenos. Neymar atuou muito mal.

Vinicius Junior jogou muito atrás, como secretário de Alex Sandro. Por outro lado, não havia pela direita um atacante nem ninguém para proteger Danilo. Continuo sem entender bem o que Tite quer de Paquetá. Faltou ao Brasil, mais uma vez, ter o domínio da bola e do jogo no meio-campo.

Neste domingo (5), o Brasil enfrenta a Argentina. Diferentemente das Eliminatórias para a Copa de 2018, quando, já com Tite, ganhava e convencia, a equipe atual ganha, mas não agrada. Quem sabe na Copa do Mundo aconteça o inverso? Tudo é incerto.

REFLEXÕES

A rescisão antecipada do contrato de Maicon é um retrato do fim de uma era no Grêmio. Termina o futebol bonito e eficiente, com muita troca de passes, aproximações e triangulações, que encantava a todos. Retorna o jogo medíocre, que dominou o futebol brasileiro durante décadas, de muitos chutões, de bolas aéreas, de passes longos, de estocadas isoladas, com volantes apenas recuados e marcadores e com um meia responsável por toda a armação das jogadas.

Maicon, Luan, Arthur e outros eram os donos da bola no meio-campo, bem comandados por Renato Gaúcho. Maicon, no São Paulo, jogava tão bem quanto no Grêmio, porém, era vaiado e criticado. Confundiam troca de passes com lentidão e falta de objetividade.

Precisamos evoluir. Não podemos mais confundir controle da bola com lentidão, velocidade com pressa, cruzamentos com técnica com jogar a bola na área para contar com a sorte, nem valorizar quase somente os dribles e os artilheiros. No futebol brasileiro, até o limitado Calleri tem grandes chances de fazer muitos gols e de se destacar.

Não deveríamos também confundir habilidade com técnica. A habilidade é importante, mas, para ser craque, é preciso ter excepcional técnica e grandíssimo profissionalismo, como tem Cristiano Ronaldo.

AQUELES OLHOS VERDES

José Trajano, jornalista e escritor, escreveu mais um delicioso livro, “Aqueles Olhos Verdes”. Trajano mistura, durante o período de 1930 a 1960, ficção com realidade, personagens da política, das artes e do futebol, como Zizinho, que dizem ter sido, no Brasil, apenas inferior a Pelé.

Outro bom livro que li recentemente é “Periodização Tática”, escrito pelo treinador Jorge Couto Reis, formado pela Uefa, com orientação de Vítor Frade, professor da Universidade do Porto.

O livro disseca métodos de treinamentos e as estratégias do jogo. Portugal está à frente do restante do mundo com relação a pesquisas científicas e em publicações sobre o futebol. Por essa razão, forma ótimos treinadores, como Abel Ferreira, Jorge Jesus e José Mourinho.

** Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Veja: Semear o caos pra quê? https://youtu.be/yLfPBPiRBik 

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