Inflação deve baixar aqui e lá fora, mas o gato dos preços espia o
telhado
Custo atual das coisas vai ficar
nas alturas, mesmo com diminuição do ritmo do aumento geral de preços
Vinicius
Torres Freire, Folha de S.Paulo
A inflação mundial
e brasileira deve baixar neste ano. Pelo menos, era essa a
expectativa em fins de 2021. Ainda é, na verdade, embora o gato tenha subido um
degrau e ora dê uma olhada na direção do telhado.
No
segundo degrau do gato da carestia pode aparecer o efeito da variante ômicron nos
preços. Ali ou acolá, a nova onda da epidemia fecha fábricas e congestiona
portos, como na China, que tem tolerância zero com o vírus.
Não são "lockdowns" grandes ou duradouros, nem na
verdade há um levantamento sistemático do problema, apenas "evidência
anedótica". Mas é preciso lembrar que um dos motivos da inflação mundial
foi a escassez de produção, como no caso já folclórico dos chips, e de transportes transoceânicos.
Antes
de continuar e para ser mais preciso: a taxa de inflação, o ritmo do aumento
geral de preços, deve ser menor, aqui e alhures, mas o nível de preços, o custo
atual das coisas, vai ficar nas alturas sufocantes. Pior ainda no Brasil, pois
os salários não
devem aumentar neste 2022. Não devem recuperar o terreno perdido
para a inflação nos próximos dois ou três anos (isso se tudo der certo).
Isto
posto, há sinais de arrefecimento. A taxa mundial de inflação de alimentos está
baixando, a julgar pelo índice da FAO, a Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura. O aumento anual de preços andou a mais de 40% em
maio de 2021 e baixou a 23% em dezembro passado. Ainda horrível, mas perdendo
ritmo.
A
inflação dos derivados do petróleo em parte se deveu a uma alta de preços sobre
os níveis deprimidos de 2020 e ao fato de a Opep, o cartel do petróleo, e seus
amigos, como a Rússia, restringirem a produção. Além do mais, houve uma crise
de abastecimento de outras fontes de energia, como o gás natural, além de
problemas climáticos pelo mundo.
Em
princípio, não haveria outro salto tão grande, dizem entendidos (no ano
passado, o barril começou em US$ 50 e chegou a US$ 86 em outubro). Mas
previsões para o preço do petróleo são quase tão furadas quanto estimativas de
taxa de câmbio (o "preço do dólar"), se por mais não fosse porque
tais projeções estão sujeitas aos azares da política internacional e a outros
imponderáveis.
Há
bancão do mundo falando de preço do barril em três dígitos, US$ 100 (ora está
na casa dos US$ 80). A agência de energia dos Estados Unidos (EIA) prevê que,
na média de 2022, o preço médio do barril será 5,5% maior do que em 2021.
A
inflação de 2021 no Brasil foi mortífera por causa do aumento de derivados de
petróleo, eletricidade e comida. A volta das chuvas e a expectativa de
safra recorde no Brasil poderiam dar uma mãozinha para atenuar
a alta de preços. Mas ainda haverá aumento de eletricidade neste ano; a safra
recorde de grãos pode subir no telhado, embora dificilmente seja ruim.
O
preço dos combustíveis pode não subir espantosamente como em 2021, mas sabe-se
lá o que será do barril de petróleo e menos ainda da taxa de câmbio, até porque
"aqui é Bolsonaro, zorra!" e o ano é de eleição. O desgoverno ajudou
a desvalorizar o real de novo; a depender dos disparates que os candidatos a
presidente venham a dizer na campanha eleitoral, o dólar pode ir até mais
longe. Será difícil de ver uma queda relevante do preço da moeda americana, o
que dependeria de entradas de dinheiros, que devem continuar lá fora, esperando
para ver que bicho vai dar na política por aqui.
O
massacre das taxas de juros, do Banco Central e no mercado de atacadão de
dinheiro, deve derrubar uma parte da inflação. Mas isso só vai ser bom porque é
ruim, pois o aperto monetário vai manter a economia estagnada, na melhor das
hipóteses.
.
Fique sabendo,
em cima dos fatos https://bit.ly/3n47CDe
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