21 janeiro 2022

Crônica da quinta-feira

Realmente, não acreditei

Luciano Siqueira

 

 

A dicção é perfeita, timbre de voz vibrante — mas a mensagem, desde a primeira frase, sem a menor graça.

Repugnante talvez seja exagero. Mas chega perto disso. 

"Você não vai acreditar", anuncia a voz feminina. 

"Se não é para acreditar, porque eu irei ouvir?", resmunguei comigo mesmo. 

E apesar de sucessivas ligações, realmente não ouvi. 

O número é desconhecido, mas é evidente que se trata do telemarketing. 

Este tipo de propaganda se aprimora a cada dia. A regra primária é provocar que o interlocutor pelo menos escute a proposta. 

Se houver interesse ou se a vítima for daquelas de posses e de hábitos de compra compulsivos, a vendedora alcançará seu intento. 

No meu caso, faltam paciência para ouvir e dinheiro para comprar. E sobra uma desconfiança crônica. Incontornável. 

Não sou uma boa vítima para o telemarketing, confesso. 

Sou um chato.

Insensível.

Porém nesse caso restou-me a curiosidade: por que iniciar a abordagem avisando que a vítima "não vai acreditar'? 

Esquisito, mas deve funcionar. Do contrário a mensagem se iniciaria afirmando que eu iria acreditar — e talvez tão óbvia assim não despertasse o meu interesse, sei lá. 

Mais engenhoso, embora simples e direto, era um cartaz que circulava em ônibus em Maceió, lá pelos anos 70 do século passado: "Quem disse que novo é sinônimo de melhor? Prefira Biotônico Fontoura". 

Creio que funcionava. Tanto que, pude verificar outro dia, o danado do velho biotônico continua firme e forte abrindo o apetite de muita gente por esse imenso Brasil afora...

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Às vezes são pequenos detalhes que impressionam https://bit.ly/3E95Juz

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