Luciano Siqueira
Comentei que a pandemia me fez gostar do cheiro e do contato manual com álcool. O líquido, a 70 graus; o baboso não.
De pronto fui advertido:
— Não se chama baboso, é álcool em gel.
Essa mania de usar a expressão supostamente mais adequada arenga com a melhor tradição de nossa bela e sonora língua portuguesa brasileira, segundo os melhores linguistas.
Melhores, digo eu — pois são aqueles que reconhecem em nosso idioma uma construção permanente, riquíssima e variada, pela mão (melhor dizendo, pela voz) do miscigenado povo brasileiro.
— Importa que as palavras ditas ou escritas sejam compreendidas.
De fato, o modo de dizer do brasileiro também se expressa pela escrita como incompleta ou avariada.
Na minha pré-adolescência, balconista da mercearia do meu pai, na Lagoa Seca, em Natal, muitas vezes atendi garotos trazendo num pedaço de papel a compra rastreada pela mãe ou pelo pai:
"Favor vender ao portador uma barra pequena de çabão amarelo."
O uso do c cedilha nunca me impediu de compreender exatamente o conteúdo da mensagem.
Quem não encontrou aviso em barraca à beira-mar ou beira de estrada anúncios garatujados carentes da escrita correta?
Em carroças de bebidas e guloseimas, idem.
No meu caso, baboso foi pronunciado (e aqui escrevo) corretamente.
Então, que lhe permitam recusar esse tal álcool em gel e preferi-lo na forma original, de odor mais agradável e fricção mais leve.
Enquanto isso, reconheçamos o modo de falar e de escrever de nossa gente em geral expressando a sua visão de mundo.
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Veja: “Heróis” efêmeros – a verdade está triunfando https://bit.ly/3JMFZHT
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