28 abril 2022

Ex-ministro trapalhão

O tiro saiu pela culatra

Cida Pedrosa*
 

Um tiro disparado acidentalmente, esta semana, no Aeroporto de Brasília por um ex-ministro da Educação mostra bem no que o Brasil se transformou desde que Bolsonaro e sua trupe de celerados ascendeu ao poder. Tem contrassenso maior que um ex-ministro da Educação, e ainda por cima pastor evangélico, andar armado? Não deveria ele estar portando livros (nem que fosse uma Bíblia) em vez de uma mortífera pistola Glock, de nove milímetros, capaz de disparar 17 vezes?

Antes que alguém tente contemporizar, alegando que o trapalhão é segundo tenente da reserva da Infantaria do Exército e tem porte de arma, obtido cinco meses após assumir o Ministério, graças a um registro de caçador, atirador desportivo e colecionador (CAC) concedido em prazo recorde de duas semanas, isso só torna tudo ainda pior. Afinal, comprova a total incapacidade de pessoas que, neste governo, têm obtido autorização para possuir ou portar armas de fogo num país que está entre os dez mais violentos do mundo, com taxa de 30,5 homicídios para 100 mil habitantes, segundo a ONU.

Felizmente, o tiro no aeroporto apenas feriu levemente uma funcionária, mas o número de armas cada vez maior em circulação nesse país, tem potencial, para causar muito mais estrago. Desde que a posse de armas foi flexibilizada é visível o aumento do número de pontos de vendas de armas de fogo. Em visita ao interior de Pernambuco recentemente, deparei, assustada, com muitas lojas dessas que, até pouco tempo atrás não existiam. No Recife, também é chocante ver grandes lojas de armamento até em pequenos shoppings de bairro.

Só quem lucra com tanta facilidade de acesso é quem fabrica ou vende esses artefatos. Ou a bandidagem, que consegue obter armas mais facilmente, tirando-as de cidadãos incautos, que se iludem achando que, armados estarão mais seguros. Do lado de quem perde está a imensa maioria da população, principalmente as mulheres.

Não são poucas as agressões e discussões que terminam em morte apenas porque o agressor teve acesso a uma arma de fogo.  Há casos incontáveis assim, ocorridos em lares onde a violência doméstica já faz morada, e no trânsito, onde se briga por qualquer futilidade.

Se vivêssemos em um país com um governo preocupado com o bem-estar da população, o Estatuto do Desarmamento jamais teria sido flexibilizado. A arma que o nosso povo precisa é a do conhecimento, através de uma boa educação que lhe garanta trabalho e vida digna. Justamente o que vem sendo negado por Bolsonaro e ministros do quilate do “atirador” Milton Ribeiro.

Para quem não lembra, o ex-ministro em questão é aquele que dizia que crianças com deficiências deveria estudar separadas das outras para não atrapalhar o aprendizado das demais e se tornou um “banco” de aliados de Bolsonaro, priorizando a liberação de recursos públicos da Educação para amigos dos pastores Gilmar Santos e Arilton Ribeiro, como mostraram gravações dele vazadas e divulgadas pela imprensa. Seu último ato, depois da demissão, foi justamente expor a estupidez e o risco que é armar incompetentes e desequilibrados.

*Advogada, poeta, vereadora pelo PCdoB no Recife

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