JBS elevou emissões de gases em 51% em 5 anos, diz estudo; empresa contesta dados |
Cínthia Leone, UOLUma pesquisa afirma que a
multinacional JBS, maior empresa de carnes do mundo com sede no Brasil,
aumentou suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 51% em cinco anos.
A companhia contesta os dados e afirma que o estudo usa "metodologia
equivocada e dados grosseiramente extrapolados". Segundo o levantamento, a
empresa jogou na atmosfera 280 milhões de toneladas (mt) de GEE em 2016,
passando para cerca de 421,6 mt em 2021. Com isso, a pegada climática da JBS
seria superior à taxa anual de emissões da Itália ou da Espanha e muito
próxima às da França (443 mt) e do Reino Unido (453 mt). O estudo foi realizado
por uma coalizão de ONGs - Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP),
Feedback e Mighty Earth - em parceria com o site investigativo DeSmog.
Segundo a coalizão, os achados da análise desmentem a estratégia
climática anunciada pela companhia, denominada "Net Zero até
2040". A JBS afirma que os
resultados levam em conta "números mais recentes de capacidade de
processamento por dia", dado que "não reflete os números reais
processados e não se destina a ser usado dessa maneira". A empresa também diz que
"já estão em andamento" as duas recomendações principais do
relatório: divulgar emissões de acordo com os padrões internacionais e
permitir a verificação independente das metas de Net Zero. Com base nos resultados
do estudo, Shefali Sharma, diretora europeia do IATP, afirma que "é
desesperador pensar que a JBS possa continuar a fazer promessas climáticas
aos investidores, mesmo quando a empresa aumenta maciçamente suas
emissões". Sharma defende a criação
de sistemas públicos e independentes para monitorar as emissões de grandes
empresas poluidoras. "Nossas estimativas de emissões atualizadas mostram
claramente os danos que estão sendo causados por anúncios vazios, de planos
net-zero", completa. Com faturamento anual
recorde de 76 bilhões de dólares, a JBS prometeu no ano passado alcançar
emissões líquidas zero até 2040. Mas o plano apresentado foi criticado por
omitir as chamadas emissões do 'Escopo 3'. Este segmento engloba a
poluição gerada por toda a cadeia de fornecimento: o metano emitido pelo
gado, as emissões do desmatamento, incêndios florestais e mudança de uso da
terra, produção de ração animal e uso de agroquímicos, por exemplo. Segundo estimativas,
as emissões do Escopo 3 representam 97% da contribuição da JBS para a mudança
climática. Hazel Healy, editora
britânica do DeSmog, disse que a JBS está usando as mesmas táticas
de greenwashing empregadas
pelas grandes empresas de petróleo e gás há décadas. "Ela se apresenta
como uma empresa com genuína ambição climática, mas não revela suas emissões
totais para que elas possam ser comparadas com as comunicações públicas da
empresa. E como esta pesquisa mostra, as emissões da JBS estão aumentando substancialmente,
não diminuindo", diz Healy. A imprensa internacional
repercutiu a análise, incluindo Financial Times, Bloomberg, Politico, The
Telegraph e o dinamarquês Duurzaam Financieel. Confira, na
íntegra, a resposta da JBS Consideramos
bem-vindas a análise e a oportunidade de discutir como enfrentamos de maneira
construtiva e quantificamos os desafios que nosso setor enfrenta. Alcançar
nosso compromisso de ser Net Zero até 2040 é nossa prioridade número um e
estamos trabalhando em conjunto com lideranças reconhecidas globalmente nessa
área, incluindo a SBTi, para avaliar, alinhar e auditar metas de redução de
emissões baseadas na ciência, considerando os escopos 1, 2 e 3, como é nosso
objetivo desde o início. Temos sido
transparentes sobre os prazos necessários para fazer isso, enquanto lideramos
a transição de nosso setor, e forneceremos atualizações à medida que
concluirmos cada etapa de nossa jornada. Alcançar a verdadeira mudança requer
reconhecer os desafios que nosso setor enfrenta e garantir uma abordagem
rigorosa baseada na ciência para reduzir nossas emissões de gases do efeito
estufa. Em vez disso, o
relatório do IATP usa uma metodologia equivocada e dados grosseiramente
extrapolados para fazer afirmações enganosas, incluindo o uso de nossa capacidade
de processamento para estimar nossas emissões. Embora não concordemos com
seus métodos e não tenhamos tido a oportunidade de contribuir ou de responder
aos pontos trazidos pelo relatório antes da publicação, entramos em contato
com a ONG para revisar suas conclusões em busca de nosso objetivo comum.
Também contatamos consultores especializados independentes nessa área para
garantir uma abordagem transparente e baseada na ciência. No que diz respeito
às duas recomendações principais dos relatórios - o trabalho de divulgação
das emissões de acordo com os padrões internacionais de melhores práticas e a
verificação independente de terceiros com relação à nossa meta de Net Zero -,
ambas já estão em andamento. . O sentido dos fatos em poucas palavras https://bit.ly/3n47CDe |
A construção coletiva das idéias é uma das mais fascinantes experiências humanas. Pressupõe um diálogo sincero, permanente, em cima dos fatos. Neste espaço, diariamente, compartilhamos com você nossa compreensão sobre as coisas da luta e da vida. Participe. Opine. [Artigos assinados expressam a opinião dos seus autores].
29 abril 2022
Ambiente agredido
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