O Preço de Paridade Internacional da Petrobras, o golpe da
década
Hoje
em dia não há dúvidas de que a motivação principal do impeachment foram os
negócios a serem abertos.
Luís
Nassif, Jornal GGN
Na rua Maranhão, no bairro de Higienópolis
(SP) há uma padaria que reúne uma fauna variada. Quem vai tomar café arrisca-se
a encontrar Roberto Freire, José Aníbal, médicos, engenheiros e lobistas. Um
deles, italiano, puxou conversa comigo nos idos da campanha do impeachment, e
me disse:
- Está a maior agitação no mundo dos
lobistas; estamos todos indo para Brasília porque se abriu a grande temporada
dos negócios.
Hoje em dia não há dúvidas de que a
motivação principal do impeachment foram os negócios a serem abertos. Dentre
todos eles, nenhum golpe foi mais bem sucedido que o PPI, o Preço de Paridade
Internacional, que permitiu à Petrobras cobrar preços internacionais do
consumidor brasileiro, mesmo extraindo no país a maior parte da sua produção.
Hoje em dia, quando vejo o jovem
repórter e o velho analista de economia defendendo a paridade internacional,
como se fosse um direito inalienável dos acionistas, percebo a enorme e
gigantesca ignorância que assola toda a mídia nacional.
Historicamente, o preço de referência
sempre foi um mix entre o custo interno mais o custo da importação, mais uma
margem de lucros. Era a contrapartida do monopólio estatal e dos investimentos
públicos de décadas na empresa.
Os acionistas nacionais e
estrangeiros que adquiriram ações da Petrobras sabiam que a regra do jogo era
aquela. Internamente, o custo de produção beirava os US$ 18, e o Brasil extraia
75% do petróleo consumido.
De repente, mal consumado o golpe, o
governo Temer indica Pedro Parente para a presidência da empresa e este muda o
sistema de definição de preços, adotando a Paridade de Preços Internacional
(PPI).
Segundo o blog Fatos e Dados,
de 14 de outubro de 2016, naquele ano a Petrobras resolveu alterar
unilateralmente a fórmula.
“A nova política terá como base dois fatores: a paridade com o
mercado internacional – também conhecido como PPI e que inclui custos como
frete de navios, custos internos de transporte e taxas portuárias – mais uma
margem que será praticada para remunerar riscos inerentes à operação, como, por
exemplo, volatilidade da taxa de câmbio e dos preços sobre estadias em portos e
lucro, além de tributos. A diretoria executiva definiu que não praticaremos
preços abaixo desta paridade internacional”.
Na época, o custo do petróleo nacional não passava de US$ 18. A
cotação internacional do barril estava em US$ 40, mas pouco tempo depois subiu
para US$ 85.
Análise o primeiro caso, do petróleo
internacional a US$ 40,00, para se ter uma pálida ideia do ganho indevido dos
acionistas.
Porque indevido? Porque eles
adquiriram ações dentro de uma expectativa de ganhos que incluía o mix de
preços. De repente, sem que nada fizesse, houve a mudança no sistema de preços
conferindo a eles, de graça, sem nenhum ônus, uma valorização expressiva do
papel.
O Brasil produz 75% do petróleo que
consome (na verdade é mais, mas fiquemos por aqui) a um custo de US$ 18,00 o
barril. Na média, o custo da Petrobras, supondo uma cotação internacional de U$
40,00, seria de US$ 23,50 o barril.
Supondo uma Taxa Interna de Retorno de 10% ao ano (para o acionista) e um prazo de 10 anos, o mix de preço daria um valor presente de US$ 144,00 para seu investimento. A mera mudança na forma de cálculo com o petróleo a US$ 40,00, proporcionou uma valorização de 70,21% na rentabilidade do papel – às custas do consumidor brasileiro.
Quando os preços do barril saltaram para US$ 80,00, o ganho dos acionistas saltou para 138,81% acima dos ganhos que esperavam, quando adquiriram as ações da empresa.
Hoje em dia, com o petróleo Brent em US$ 104,00, o ganho adicional do acionista cresceu 163,29%.
O inacreditável na história é a
cobertura do jornalismo econômico, considerando o PPI como direito histórico
dos acionistas. Nunca foi. Em 2021, a pretexto de criar uma saída para a alta
do petróleo, o senador Jean Paul Prates simplesmente vai legalizar uma decisão
ilegal da Petrobras, de 2016.
Ou seja, o ganho adicional dado aos
acionistas, em 2016, se deveu a uma decisão unilateral da Petrobras,
atropelando a lei, que impunha o preço ponderado do combustível.
Agora, pretende-se legalizar o PPI.
A relação de artigos de jornalistas
econômicos, considerando o “direito” dos acionistas ao PPI, talvez seja o
episódio de maior explicitação da ignorância do setor nas últimas décadas.
.
O sentido dos fatos em poucas palavras https://bit.ly/3n47CDe
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