PUNHAL, FACA E FAKE
Atentado político com arma branca é raridade desde o surgimento das armas de fogo
portáteis no século XV. Na história ocidental, o mais famoso dos crimes
políticos com objeto perfurante/cortante, sem dúvida, foi o que matou Júlio
César, nos idos de março do ano 44 a.C. No Brasil hodierno, entretanto, duas
ocorrências de uso desse armamento milenar surpreenderam o País com 103 anos de
distância entre uma e outra.
Jair Messias e
Pinheiro Machado, alcançados por arma branca, são
personagens distintos e até antagônicos em aspectos fundamentais, apesar da
semelhança entre atentados no tocante ao armamento usado. Pinheiro era um
conservador, Jair é um reacionário – os conservadores querem a manutenção do status
quo e os reacionários querem o retrocesso histórico. Pinheiro era um homem
valente, Jair é um covarde.
José Gomes Pinheiro
Machado, gaúcho de Cruz Alta, vivente entre 1851 e
1915, senador, aos 64 anos de idade era o político mais influente no País, foi
responsável – entre outras coisas – pela “Política das Salvações”, implementada
pelo presidente Hermes da Fonseca (apesar de se desentenderem quando da
aplicação das medidas) em 1912 e que destronou as chamadas “oligarquias
nordestinas”. Sua digital pode ser encontrada nas quedas dos Accioly, no Ceará,
dos Rosa e Silva, em Pernambuco e dos Malta, em Alagoas.
Pinheiro Machado era
um homem de comprovada coragem pessoal. Aos 15 anos, escapuliu da escola
militar para lutar como voluntário na Guerra do Paraguai (1864/1870), onde se
destacou pela bravura. Depois, se licenciou do Senado para combater na
Revolução Federalista (1893/1894). Optou pela vida civil, mas foi distinguido
com a patente de General, por mérito. Era rico por herança e não pairavam
suspeitas sobre seu patrimônio. Senador pelo Rio Grande do Sul desde 1889,
integrante do alto clero da política brasileira, ditava normas. Foi apunhalado
pelas costas, mortalmente, sem chance de defesa, no dia 8 de setembro de 1915.
Jair Messias é
um covarde juramentado. Nunca participou de combate de qualquer tipo e, embora
fale grosso que é “treinado para matar”, miou em todas as ocasiões que poderia
ter colocado em prática esse treinamento todo. Em 1995, no Rio de Janeiro,
perdeu a arma, a moto, a carteira e o casacão de couro no que disse ser um
assalto. Em 1997, segundo reportagem da revista Sexy sobre escândalos sexuais
em Brasília, o ex-capitão então deputado federal teria apanhado de um capitão
de verdade, Ivan Mendes – em público – no estacionamento da Câmara dos
Deputados, sem esboçar reação. Em 6 de setembro de 2018, cercado por dezenas de
seguranças, não conseguiu se defender de uma faca de cozinha – e existe forte
suspeita de armação nesse “atentado”, o que é covardia maior ainda.
O mesmo tipo de
arma, dois desfechos: Pinheiro Machado queria ser
presidente da República, mas uma arma branca o matou junto com seu sonho. Jair
Messias iria perder a eleição, mas uma arma branca o elegeu presidente – para a
desgraça do Brasil.
[Ilustração: Aroeira]
Veja: Pedir o voto faz a
diferença https://bit.ly/3QUTNTT
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