Até 2050, todas as crianças devem estar expostas a alta
frequência de ondas de calor
Os mais novos, que são mais
frágeis a temperaturas altas, serão amplamente afetados mesmo no melhor cenário
climático
Phillippe Watanabe,
Folha de S. Paulo
Até
2050, todas as crianças do mundo devem estar expostas a elevadas frequências de ondas de calor.
As mais de 2 bilhões que existirão naquele ano sofrerão com a constância do
evento extremo mesmo no melhor cenário climático possível, ou seja, se o
planeta conseguir chegar perto de cumprir os compromissos acordados, o que, no
momento, parece improvável de
acontecer.
É
o que aponta o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a
Infância), que, na última quarta (26), publicou um relatório sobre a situação
das crianças (menores de 18 anos) em decorrência da crise climática. Com o
título "O ano
mais frio do resto de nossas vidas", a entidade estima que,
atualmente, cerca de 559 milhões de crianças no mundo já estão expostas a uma
elevada frequência de ondas de calor —o que é caracterizado por 4,5 ou mais
registros desse evento extremo.
Estima-se
que, em 2020, 1 a cada 4 crianças enfrentava elevada frequência de ondas de
calor. No mesmo ano, as Américas e a Europa registravam os percentuais mais
elevados de crianças expostas a uma elevada frequência de ondas de calor,
enquanto a Ásia tinha o maior número absoluto.
Segundo
o Unicef, medidas de mitigação e de adaptação são urgentes.
As
crianças, especialmente as mais novas, estão entre os grupos mais vulneráveis à crise climática.
Os pequenos têm mais dificuldade para regular a temperatura corporal. Isso sem
considerar os impactos das altas temperaturas sobre a saúde mental e emocional
das crianças.
"O
mundo precisa, urgentemente, investir na construção de resiliência e na
adaptação de todos os sistemas dos quais as crianças dependem para, assim, dar
conta dos desafios da rápida mudança climática", afirma Catherine Russell,
diretora-executiva da Unicef.
Segundo
o relatório, as crianças nas áreas mais ao norte do planeta serão as que
enfrentarão a situação mais dramática no aumento da severidade das ondas de
calor. Os pesquisadores estimam que, em 2050, cerca de metade de todas as
crianças da África e da Ásia viverá exposta continuamente a temperaturas
extremamente altas —segundo o Unicef, quando 83 dias ou mais por ano registram
mais de 35°C.
Atualmente,
1 a cada 3 crianças no mundo vive em países com cerca de 83 dias ou mais por
ano de temperatura acima de 35°C. A exposição a temperaturas extremamente altas
já atinge áreas do Oriente Médio, Áfricas do Norte e Central, o sul da Ásia e
partes da América Latina e da Austrália, o que dificulta rotinas básicas
diárias e leva crianças a situações de doença e morte.
As
regiões que, em 2020, tinham as maiores exposições de crianças a temperaturas
extremamente altas são a África e a Ásia, o que deve se manter até 2050.
O
documento aponta que, no mundo, as ondas de calor matam cerca de meio milhão de
pessoas por ano. Entre os riscos à saúde associados ao aumento de temperatura
estão alergias, insolação e estresse térmico, maiores níveis de asma e de risco
condições respiratórias crônicas, aumento de doenças cardiovasculares, risco de
doenças transmitidas por mosquitos, baixo peso ao nascer, subnutrição e
diarreia.
O
relatório afirma que em regiões já costumeiramente quentes as temperaturas
podem rapidamente chegar a níveis letais. Os autores dão como exemplo a Índia e o Paquistão,
onde, em março deste ano, foram registradas temperaturas superiores a 40°C, o
que levou a mortes, quedas de energia, incêndios e perdas de colheitas.
O
Brasil também é citado por, em agosto de 2021, ter registrado temperaturas
extremamente altas por diversos dias, como no Mato Grosso, que chegou a 41°C.
O Acordo de Paris,
do qual o Brasil faz parte, determina que os países reduzam suas emissões para,
preferencialmente, conter o aumento da temperatura global média em até 1,5°C.
Leia
também: Mudanças climáticas: - verdades ou falácias? https://bit.ly/3Cghod7
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