Palavra de poeta: Marcelo Mario de Melo
O RIO DAS NOSSAS LÁGRIMAS
Marcelo Mário de Melo*
Às vezes é preciso
desatar as nossas lágrimas.
Só os carrascos não choram.
E nós somos jardineiros
vendo as flores arrancadas.
Caminhantes
ante as pontes destruídas.
Operários vendo as obras demolidas.
Arquitetos junto as plantas ao fogo.
Celebrantes assistindo
carpideiras e vampiros
ocuparem o lugar da orquestra.
No calendário dos desmandos
as vísceras do povo sangram
pelos nossos olhos.
E é preciso transbordar
a lagoa da tristeza
formando um rio caudaloso
que irrigue novas lavraturas.
Depois com os olhos enxutos
iremos de mãos dadas
retomar a travessia
encarando no espelho
os erros comuns.
[Ilustração: Candido Portinari]
*Jornalista, poeta
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