O desconforto de
Raquel no debate da Globo
Luciano Siqueira
Debates entre
postulantes a cargos executivos sempre são uma mescla de considerações de ordem
técnica e de confronto essencialmente político.
Invariavelmente,
aquele ou aquela que traz em sua candidatura apoios incômodos mergulha em
argumentos técnicos e administrativos na tentativa de escondê-los ou minimizá-los.
Aconteceu com Raquel
Lyra, ontem, no confronto com Marília Arraes, no debate da Rede Globo.
Raquel repete o
discurso administrativo, que traz na ponta da língua, e foge da grande questão
política nacional.
Para ela, “o debate
não deve ser nacionalizado”.
Isto em Pernambuco,
cuja tradição é de disputas eleitorais plenamente politizadas, em que
questões locais se entrelaçam com os destinos do país, vem a ser uma tremenda
bobagem. Ou fuga.
No caso, a
necessidade que Raquel tem de ocultar o quanto possível, aos olhos do grande
público, que a extrema direita bolsonarista pernambucana é parte fundamental
das forças que a sustentam.
E este não é um
quesito de menor importância. O pleito que se consumará no próximo dia 30, como
bem sabemos, tem caráter estratégico para os destinos do Brasil.
A polarização irreconciliável
entre Lula e Bolsonaro é a expressão do conflito entre a civilização e a
barbárie, a democracia e a ameaça golpista.
Mais ainda, coloca
duas alternativas inapeláveis: ou o Brasil segue no tremendo atoleiro em que se
encontra ou retoma o caminho do desenvolvimento econômico em bases soberanas e
socialmente progressistas.
Em disputa renhida,
embora as pesquisas indiquem vantagem de Raquel nessa reta final, a majoritária
e emocionada preferência de quase 70% dos eleitores pernambucanos por Lula ainda
poderá contribuir decididamente para a vitória de Marília Arraes.
É uma hipótese muito plausível.
O comando da campanha
de Raquel Lyra sabe disso e a orienta a fugir, que nem o diabo foge da cruz, do
reconhecimento de sua sólida aliança com a direita bolsonarista.
No caso de Raquel, o fel contamina o mel
e a resultante é um amargor antipopular, enquanto Marília, no polo oposto,
supera limitações ao se untar apenas de mel.
Leia também: União em favor de quem? https://bit.ly/3VdJXzx
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